Alopecia Frontal Fibrosante: O que é e como impacta a vida das pessoas

A alopecia frontal fibrosante é uma forma de queda de cabelo que causa grande impacto psicossocial, especialmente em mulheres na menopausa. Caracterizada por inflamação e atrofia do couro cabeludo, ela provoca a perda de fios a partir da linha frontal (testa), progredindo gradualmente para a região posterior. A área afetada muitas vezes apresenta atrofia esbranquiçada na pele, próxima ao limite de implantação dos cabelos.
Neste artigo, exploraremos as causas da alopecia frontal fibrosante, suas manifestações dermatológicas e as opções de tratamento disponíveis.
Causas da Alopecia Frontal Fibrosante: O que Sabemos?
A alopecia frontal fibrosante é uma condição complexa, e suas causas ainda não são totalmente compreendidas. Considerada um subtipo de líquen plano, essa forma de queda de cabelo parece resultar de uma combinação de fatores genéticos, hormonais e ambientais. Abaixo, detalhamos os principais aspectos relacionados às suas causas:
1. Predisposição Genética
A hereditariedade desempenha um papel importante, já que a alopecia frontal fibrosante frequentemente afeta múltiplos membros da mesma família. Essa predisposição genética sugere que certos indivíduos são mais suscetíveis à doença.
2. Influência Hormonal
A condição é significativamente mais comum em mulheres, especialmente na menopausa, o que aponta para uma forte influência hormonal. Entre outros fatores hormonais associados, destacam-se:
- Menopausa precoce ou redução dos níveis de estrógenos e andrógenos.
- Benefícios observados com a reposição hormonal.
- Resposta positiva ao tratamento com medicamentos antiandrógenos, como inibidores da 5-alfa-redutase.
3. Fatores Ambientais
O aumento da incidência da alopecia frontal fibrosante em diversos países, especialmente após 1994, sugere a influência de fatores ambientais em pessoas geneticamente predispostas.
Entre os possíveis gatilhos, estão:
- Alergia manifestada por dermatite de contato: produtos cosméticos, como fragrâncias e conservantes, além de filtros solares, são suspeitos de desencadear ou agravar a enfermidade.
- Hábito de fumar: Estudos investigam sua possível relação com o desenvolvimento da doença.
Embora a interação exata entre esses fatores ainda esteja sob investigação, a combinação de predisposição genética, alterações hormonais e exposição a gatilhos ambientais parece ser a chave para o surgimento da alopecia frontal fibrosante.
Como se Manifesta a Alopecia Frontal Fibrosante?
1. Queda de cabelo no couro cabeludo
A alopecia frontal fibrosante é uma condição caracterizada pela queda de cabelo progressiva, que começa na linha de implantação do couro cabeludo, afetando principalmente a região frontal e lateral, em forma de faixa (foto 1).
Essa perda de cabelo ocorre de forma lenta, com um retrocesso médio de 1,05 cm por ano, muitas vezes tão gradual que os pacientes demoram a perceber.
A seguir, detalhamos as principais manifestações da doença:
- Região frontal: A queda é iniciada na linha frontal (testa), aumentando a área sem cabelo e criando uma testa mais ampla.
- Padrões de queda:
- Regular: Retrocesso homogêneo.
- Irregular: Perda maior em algumas áreas do que em outras.
- Pseudofranja: Preservação de uma faixa fina de cabelos na borda anterior.
- Outras áreas: Menos comumente, a região occipital (acima da nuca) ou outras partes do couro cabeludo podem ser afetadas.
- Sinais inflamatórios: Vermelhidão (eritema) e descamação ao redor dos folículos pilosos visíveis com o dermatoscópio, indicam atividade inflamatória.
- Perda folicular: A ausência de óstios foliculares na área afetada caracteriza uma alopecia cicatricial (permanente).
- Fios residuais: É comum observar um ou poucos fios isolados na área de alopecia.
2. Perda de Pelos em Outras Regiões
- Sobrancelhas: A queda pode ser parcial ou total, começando pela parte lateral e frequentemente precedendo a perda de cabelo no couro cabeludo (foto 1).
- Cílios: Afetados com menor frequência.
- Outras áreas: Pelos do corpo, como axilas, região pubiana, braços e pernas, também podem ser comprometidos.
- Pelos vellus: A perda preferencial de pelos finos (vellus) na borda frontal do couro cabeludo ajuda a diferenciar essa condição de outras alopecias.

Foto 1: Alopecia frontal fibrosante, onde se observa queda de cabelo no limite de implantação do couro cabelo, na parte frontal e lateral da face e perda das sobrancelhas, frequentemente precedendo a queda de cabelo.
3. Sintomas Associados
Pacientes podem relatar:
- Coceira (prurido), queimação, dor ou formigamento no couro cabeludo.
- Esses sintomas indicam a fase ativa da doença.
4. Alterações Cutâneas
Além da queda de cabelo, a alopecia frontal fibrosante apresenta alterações na pele que podem preceder a perda de fios de cabelo, sendo, portanto, fundamentais para o diagnóstico precoce.
Reconhecer essas manifestações pode antecipar o tratamento e ajudar a prevenir a progressão da alopecia, que é irreversível.
- Manchas escuras: Semelhantes ao melasma (foto 2), variam entre tons de marrom, cinza, preto ou azul.
Localiza-se mais comumente no rosto, mas também no pescoço, colo e membros superiores, ou seja, com preferência por áreas expostas ao sol.
Essas manchas estão associadas à variedade pigmentosa do líquen plano.

Foto 2: Manchas escuras no rosto, manifestação associada à queda de cabelo da alopecia frontal fibrosante.
- Atrofia da pele
- Características: A pele na região frontal, logo abaixo da linha de implantação do couro cabeludo, torna-se fina, lisa e mais clara que o normal, com vasos sanguíneos dilatados (telangiectasias) visíveis
- Localização: Comumente na testa, próximo à linha de implantação do cabelo (foto 1).
- Pápulas faciais
- Descrição: Pequenos caroços (pápulas) relacionados aos folículos pilosos, com superfície lisa, bordas pouco definidas e cor da pele normal. Podem apresentar delicadas espículas foliculares, semelhantes à ceratose pilar (foto 3).
- Localização: Mais frequentes nas regiões temporais (próximo às orelhas), mas podem aparecer na testa, maçãs do rosto ou queixo.
- Significado: Associadas a maior gravidade da doença.
- Tratamento: Uso de isotretinoína oral, medicamento também indicado para acne.

Foto 3: Pápulas (carocinhos) na região frontal (testa) da face, frequentemente associadas à queda de cabelo da alopecia frontal fibrosante.
- Rugas e Eritema
- Rugas: Surgem na região preauricular (próximo às orelhas), sendo menos comuns.
- Vermelhidão (eritema): Extensa na face, semelhante à rosácea (fotos 3 e 4), mas ocorre com menor frequência.


Fotos 4 e 5: Telangiectasias (vasos sanguíneos dilatados) associado a eritema (vermelhidão), simulando a rosácea.
As alterações cutâneas podem aparecer antes da queda de cabelo, permitindo a identificação precoce da alopecia frontal fibrosante.
Como confirmar o diagnóstico de Alopecia Frontal Fibrosante?
- Dermatoscopia: Exame que avalia sinais inflamatórios e perda folicular.
- Biópsia de pele: Exame histopatológico para confirmar a condição.
Como Tratar a Alopecia Frontal Fibrosante?
O tratamento da alopecia frontal fibrosante deve começar o mais cedo possível, pois a perda de cabelo é irreversível, devido à natureza cicatricial da doença.
As opções terapêuticas incluem medicamentos tópicos, orais e, em alguns casos, procedimentos como transplante capilar.
A escolha do tratamento depende da gravidade, extensão da doença e resposta do paciente. Abaixo, detalhamos as principais abordagens:
1. Tratamentos Tópicos
- Corticoides
- Creme: Reduz a inflamação no couro cabeludo.
- Intralesional: Injeções aplicadas a cada 8 semanas para maior eficácia.
- Minoxidil 5% (solução ou espuma): Auxilia no tratamento simultâneo da alopecia androgenética, estimulando o crescimento capilar.
- Tacrolimo e pimecrolimo: Usados no início ou como alternativa aos corticoides, minimizando a atrofia da pele
2. Tratamentos Orais
- Inibidores da 5-alfa-redutase (finasterida, dutasterida): Atuam na regulação hormonal, com benefícios em mulheres na menopausa.
- Hidroxicloroquina: Possui ação anti-inflamatória.
- Antibióticos anti-inflamatórios (tetraciclina, doxiciclina, minociclina): Reduzem a inflamação.
- Retinoides orais (isotretinoína, acitretina): Eficazes para tratar as pápulas faciais e controle da doença.
- Imunossupressores (metotrexato, micofenolato de mofetil): Indicados em casos graves.
- Outros medicamentos: Pioglitazona, naltrexona e tofacitinibe podem ser considerados em situações específicas.
3. Procedimentos
- Excimer laser e laser de CO2
- Transplante capilar: Viável apenas após o controle da doença, com manutenção do tratamento clínico para evitar reativação. O procedimento tem eficácia limitada devido ao risco de recidiva.
Qual a Importância do Diagnóstico Precoce
Iniciar o tratamento logo no início pode estabilizar a progressão da doença e preservar os folículos remanescentes.
Um dermatologista pode avaliar a necessidade de dermatoscopia ou biópsia para confirmar o diagnóstico e personalizar o tratamento.
Prognóstico da Alopecia Frontal Fibrosante
A alopecia frontal fibrosante geralmente apresenta uma fase ativa de cerca de 5 anos, após a qual, a progressão pode estabilizar. No entanto, a recuperação dos pelos nas áreas afetadas é rara, com relatos ocasionais de recuperação parcial.
Fatores associados a um pior prognóstico incluem:
- Perda de pelos nas sobrancelhas e cílios.
- Presença de pápulas faciais, indicando maior gravidade.
Embora a doença seja crônica e a perda de cabelo permanente, o tratamento adequado pode controlar a inflamação, prevenir maior progressão e melhorar a qualidade de vida.