O que predispõe ao eczema de contato?

Dr. Sergio Paulo

A dermatite ou eczema de contato é definida como uma alergia na pele e manifestado por inflamação

Ela provoca aspecto avermelhado associado à descamação e prurido (coceira) e está relacionada ao contato de substâncias com a pele e  que pode ser um alérgeno (substância que desencadeia reação alérgica) ou um irritante (uma substância que danifica a pele).

Os irritantes são responsáveis por aproximadamente 80% dos casos.

Continue lendo o nosso post e confira quais são os fatores predisponentes do eczema de contato e como deve ser realizado o tratamento.

Fatores predisponentes do eczema de contato

Confira quais são os fatores que predispõem ao eczema de contato:

Idade

Crianças

As crianças são menos expostas ao contato com substâncias geradoras de eczema de contato. O mecanismo mais frequente é o de irritação (não envolvendo alergia).

O maior exemplo é o de dermatite de fraldas gerado pelo contato com urina e fezes, agravado pela umidade e fricção das fraldas.

Em seguida,em frequência, o contato com metais (bijuteria), especialmente o sulfato de níquel,contido em metais de bijoterias, e o bicromato de potássio (existente na confecção do couro do sapato), além de fragrâncias.

Adolescentes

Correspondem a 10% dos casos de eczema de contato, contido nos metais (sulfato de níquel e cloreto de cobalto), esmalte de unha (resina tolueno-sulfonamida). Essas substâncias, em contato com a pele, geram inflamação através de mecanismo alérgico.

Adultos

Essa é a faixa etária mais frequentemente afetada pelo eczema de contato.

O contato com sabões e detergentes é o causador mais frequente,atuando por simples mecanismo irritante (não mecanismo alérgico) e, normalmente, relacionado à profissão, como a de dona de casa.

Os casos por mecanismo alérgico têm como principais agentes etiológicos o sulfato de níquel, o cromo e o cobalto, contidos nos metais de bijuteria, além dos componentes da borracha.

Idosos

O contato com medicamentos, especialmente com o sulfato de neomicina, muito aplicado para tratar úlcera (ferida) de perna, são os maiores responsáveis pelo eczema de contato nessa faixa etária.

Pele Negra

A pele negra é mais resistente à dermatite de contato, tipo irritativa, como aos sabões e detergentes.

Outras doenças da pele

Doenças que causam a inflamação da pele, como a psoríase e a dermatite atópica, facilitam a instalação de dermatite de contato por substâncias irritantes por gerar menor resistência à penetração delas, como aos sabões e  aos detergentes.

A sensibilização alérgica aos medicamentos aplicados e ao material da borracha, no caso de dermatite de contato das mãos, também contribuem para o eczema de contato.

Localização do eczema de contato

As localizações mais frequentes são aquelas mais expostas ao contato com as substâncias como as mãos, a face, o pescoço e os pés.

As regiões onde a pele é mais espessa, têm maior resistência ao desenvolvimento de dermatite de contato em consequência da menor penetração de substâncias, como a palma e a planta.

Portanto, é maior a probabilidade de desenvolver a doença no dorso das mãos, por exemplo, do que na palma, pelo contato com sabões e detergentes.

Se a substância responsável estiver na roupa ou contaminá-la, os locais mais vulneráveis são aqueles onde exista maior fricção, como as axilas, as coxas, a parte superior das costas e os pés. Nessa última localização, o contato com o material contido no couro do sapato gera inflamação e coceira intensa.

Eczema (dermatite) de contato, alergia ao sapato

Substâncias alérgicas contidas nas mãos podem ser transferidas para outros locais, como as pálpebras e órgão genital, regiões mais susceptíveis por oferecer menor resistência à penetração por terem a pele mais fina.

Um exemplo frequente é o contato do esmalte das unhas com as pálpebras.

Eczema ( dermatite) de contato, alergia ao esmalte

A mão é o local mais frequente na dermatite de contato relacionada à profissão, como nos profissionais que manuseiam alimentos (cozinheiro) ,medicamentos (enfermeiro)  e donas de casa. Nestas últimas, se manifesta por ressecamento e inflamação consequente ao contato com sabão e detergente, atividade comum nesses profissionais.

Eczema (dermatite) de contato, alergia na mão ao sabão

As doenças da pele correspondem a mais de 30% das doenças ocupacionais(medicina do trabalho) e o eczema de contato é responsável por 90 a 95% dessas doenças da pele.

Eczema de contato por irritante

A dermatite de contato por irritante ocorre quando a pele entra em contato com uma substância que provoca agressão do ponto de vista físico, mecânico ou químico, causando o rompimento da barreira normal dela.

Causa do eczema de contato por irritante

As causas mais comuns são produtos de uso cotidiano, incluindo sabão, produtos de limpeza e álcool.

Pessoas com pele seca, especialmente os portadores de alergia hereditária como a atopia (rinite e asma) e de pele clara têm maior risco, embora qualquer pessoa possa desenvolver eczema por irritante primário.

Manifestações clínicas

As substâncias irritantes podem gerar vermelhidão, secura, fissuras (pequenas rachaduras), liquenificação (espessamento e acentuação das linhas da pele) além de descamação e coceira, muito comum nas pessoas portadoras de asma e rinite alérgica.

Eczema (dermatite) de contato, alergia ao álcool em gel

Irritantes fortes,como ácido nítrico, existente, por exemplo, em água-viva

Eczema (dermatite) de contato, alergia a Água-Viva

podem causar, quase que imediatamente após o contato, as manifestações de:

  • Vermelhidão e inchaço
  • Transpiração
  • Dor e ardor
  • Bolhas
  •  

As mãos são comumente afetadas, geralmente entre os dedos.

O eczema de contato por irritante também pode afetar o rosto, especialmente a pele fina das pálpebras.

Diagnóstico de eczema de contato por irritante

O diagnóstico de eczema de contato por irritante geralmente é baseado na história e no exame físico.

Em alguns casos, um teste com adesivo (aplicação de uma pequena quantidade de substância na pele) pode ser recomendado para esclarecer se a dermatite é do tipo alérgica ou por irritante.

Tratamento

O objetivo do tratamento da dermatite de contato irritante é recuperar a barreira normal da pele e protegê-la de adicionais lesões no futuro.

Para isso, é fundamental diminuir ou evitar totalmente a exposição às substâncias irritantes conhecidas. Em alguns casos, diminuir o uso de sabão e aplicar um creme ou pomada emoliente (creme hidratante) alivia completamente os sintomas.

Também recomenda-se usar luvas ao trabalhar com substâncias irritantes, porém não deve exceder o tempo de 2 horas de contato diário com a pele.

As luvas também são muito importantes para as pessoas que lavam as mãos muito frequentemente (mais de 20 vezes ao dia). Nesses casos, é recomendado que seja usada uma luva de tecido de algodão antes da luva de borracha.

Os casos mais intensos exigem o acompanhamento de um dermatologista que irá recomendar corticosteróide tópico sob a forma de creme durante o dia e pomada à noite, preferencialmente com alta potência anti-inflamatória.

Os tratamentos com corticosteróides para dermatite de contato são mais eficazes quando aplicados sob curativo, luvas de algodão ou vaselina. Corticosteróides por via oral, como a prednisona, podem ser usados​​ por apenas  alguns dias para tratar eczemas graves, mas devem ser evitados para o tratamento a longo prazo para evitar graves efeitos colaterais como atrofia(afinamento) da pele

Eczema de contato alérgico

A dermatite alérgica de contato ocorre quando a pele entra em contato direto com um alérgeno. Isso ativa o sistema imunológico, que gera inflamação.

Ela pode ocorrer após a exposição a um novo produto ou após o uso ter acontecido, previamente por meses ou anos. Alérgenos em baixas concentrações requerem exposição de semanas a meses antes de causar eczema.

O paciente pode ajudar a encontrar a causa da dermatite alérgica de contato, fornecendo um histórico de exposições. Se o paciente apresentar dermatite alérgica de contato súbito com bolhas, por exemplo, o histórico de exposição à planta é mais provável.

Por outro lado, no caso da dermatite alérgica de contato crônica, manifestada por vermelhidão e espessamento da pele, deve ser pesquisada a exposição a itens do cotidiano, como roupas, sapatos, cosméticos e metais.

Alérgenos comuns

A hera venenosa, o carvalho venenoso e o sumagre venenoso contêm um óleo chamado urushiol, que é a causa mais comum de eczema de contato alérgica.

A fruta ginkgo e a casca da manga também contêm urushiol e podem ser a causa.

Outros alérgenos comuns são:

  • Níquel em joias
Eczema (dermatite) de contato ao brinco
  • Perfumes e cosméticos
  • Componentes da borracha
  • Esmaltes
  • Produtos químicos em sapatos (couro sintético), conservantes
  • Produtos químicos usados para pintar o cabelo
  • Corticosteróide de uso tópico
  • Colas
  • Plásticos
  • Borracha

Muito frequente é a alergia ao contato com o sulfato de níquel, contido no metal de bijuterias, em relógio e no botão do zipper da calça.

A dermatite alérgica de contato também pode ser desencadeada por certos medicamentos, sendo o mais frequente o sulfato de neomicina. Os detergentes para a roupa também podem ser a causa.

Manifestações clínicas

O sintoma desse tipo de eczema de contato inclui coceira intensa, acompanhada de erupção cutânea avermelhada e que pode formar bolhas, em casos graves.

A erupção cutânea geralmente se limita às áreas que estavam em contato direto com o alérgeno, mas uma erupção cutânea pode aparecer em outras áreas do corpo, se o alérgeno for transferido para essas áreas pelas mãos de uma pessoa ou ser provocado pela propagação da alergia por células (linfócitos) do sangue.

Lavar a pele contendo o alérgeno com água e sabão, geralmente, pode impedir essa propagação.

A erupção cutânea aparece dentro de 12 a 48 horas após a exposição ao alérgeno, embora em alguns casos possa não aparecer por até duas semanas.

É necessário ter havido um contato prévio, antes da erupção para ocorrer a sensibilização

Menos comumente, a erupção persiste por meses ou anos. Nessa situação, é mais difícil a identificação da causa.

Diagnóstico

O diagnóstico do eczema de contato alérgico é baseado na história clínica e no exame físico do paciente.

Se os sintomas melhorarem após a eliminação do alérgeno, isso apoia o diagnóstico. O teste de contato pode ser recomendado em alguns casos para esclarecer o agente etiológico.

Teste de contato, exame de alergia

Tratamento

A dermatite alérgica de contato, na maioria dos casos, desaparece dentro de duas a quatro semanas após a eliminação do alérgeno, embora possa levar mais tempo, em alguns casos.

Várias medidas podem ser adotadas para minimizar a coceira durante esse período e ajudar a controlar esse sintoma em pessoas com dermatite alérgica de contato persistente (crônica).

Sempre que possível, identifique e interrompa toda a exposição ao alérgeno.

Além disso, banhos de aveia ou loções calmantes, como de calamina, podem proporcionar alívio em casos leves.

Os corticosteróides tópicos podem ser recomendados para pessoas com sintomas leves a moderados. Cremes e pomadas corticosteróides estão disponíveis em uma variedade de potência anti-inflamatória, devendo ser consultado um dermatologista para prescrever a mais indicada para o seu caso.

Para os pacientes com coceira mais intensa, recomendam-se compressas úmidas, especialmente quando a área afetada apresenta secreção líquida e com crostas. Esses curativos trazem diversos benefícios:

  • São calmantes
  • Aliviam a coceira
  • Reduzem a vermelhidão
  • Removem delicadamente as crostas
  • Evitam arranhões adicionais

Uma roupa de algodão úmida (a roupa é encharcada de água e depois torcida) é usada sobre a área afetada e coberta com uma seca.

Os adultos podem preferir aplicar curativos molhados à noite. Quando usados ​​durante o dia, os curativos úmidos devem ser trocados a cada oito horas.

Bebês e crianças com envolvimento extenso da pele podem usar pijamas molhados cobertos por um seco ou um saco plástico antes de dormir.

Em pessoas com dermatite grave, pode ser recomendado um período curto de corticosteróides por via oral para controlar os sintomas.

Dermatite de contato ao látex

O látex é um fluido produzido por seringueiras, industrializado em uma variedade de produtos, incluindo luvas, balões e preservativos.

Em alguns indivíduos, a exposição a esses produtos e a outros pode causar eczema de contato por meio de uma reação por irritante ou alérgica. Menos comumente, uma pessoa pode desenvolver uma reação alérgica potencialmente fatal ao látex.

Eczema de contato por irritante ao látex

A dermatite por irritante geralmente ocorre nas mãos de pessoas que usam látex ou outras luvas de borracha, mas o problema não é o látex.

Essas luvas, contenham ou não látex, geralmente contêm aditivos químicos que irritam a pele. Além disso, elas retêm a umidade contra a pele, gerando diminuição da barreira dela à penetração de substâncias e tornando-a vulnerável aos compostos irritantes.

A combinação desses fatores pode levar à inflamação da pele.

As manifestações da dermatite por irritante por borracha ou látex incluem vermelhidão e coceira. Também pode provocar ressecamento e rachaduras.

Pessoas com dermatite por irritante geralmente acreditam ter alergia ao látex e descobrem que a dermatite ocorre mesmo quando usam luvas sem esse componente. O tratamento consiste em evitar produtos que contenham irritantes e usar um creme hidratante.

Alergia ao látex

Causa uma resposta diferente daquela observada na dermatite por irritante.

Uma alergia ao látex pode causar urticária que se manifesta por manchas avermelhadas e urticas (elevação da pele), onde cada lesão dura, no máximo, 24 horas, sempre acompanhada da sensação de coceira intensa.

Outras manifestações incluem irritação ou congestão nasal e ocular, asma e, até mesmo, uma reação potencialmente fatal chamada anafilaxia que impede a respiração decorrente de inchaço nas vias aéreas, como a laringe.

Além disso, as pessoas com alergia ao látex, geralmente, também têm respostas alérgicas às frutas ou vegetais que contêm proteínas semelhantes às encontradas no látex.

Esses alimentos incluem banana, kiwi, abacate, castanha, mamão e tomate.

Diagnóstico e tratamento do eczema de contato ao latex

Se o padrão de manifestação sugere uma alergia ao látex, pode ser confirmado recorrendo a exames de sangue ou na pele. O diagnóstico pode ser feito com testes cutâneos usando derivados do látex.

O tratamento preventivo para alergia ao látex é evitar todos os produtos que contenham esse produto. Luvas sem látex estão amplamente disponíveis.

Os preservativos (camisinha) sem látex podem evitar a gravidez, porém não as doenças sexualmente transmissíveis como HIV e infecções por gonorreia e clamídia.

A população que reage intensamente ao componente deve informar essa reação em qualquer momento através de avisos aderidos à pulseira, colar ou carteira, além de uma referência familiar através do nome e telefone em situação de emergência, especialmente em crianças.

Essa alergia deve ser informada aos profissionais de saúde, como médicos e dentistas. É importante ainda que os pacientes sejam acompanhados de um kit de anafilaxia, incluindo adrenalina, em caso de não dispor de nenhum profissional de saúde ao acontecer uma crise.

Agora que você já sabe tudo sobre o eczema de contato e os seus tipos, continue a leitura e aprenda mais sobre a teledermatologia.

INSCREVA-SE NA NOSSA NEWSLETTER SOBRE SAÚDE DA PELE