Está com inflamações próximas da unha? Saiba mais sobre a paroníquia

Dr. Sergio Paulo

A paroníquia é a condição caracterizada pela inflamação dos dedos, geralmente os da mão, na área que circunda a parte lateral e proximal da unha.

Nos casos graves, também pode haver o aparecimento de lesões no seu contorno distal. 

A duração pode ser inferior a 6 semanas, constituindo a forma aguda, ou superior a esse período, correspondendo à variedade crônica.

Na grande maioria dos casos, o problema é causado por uma infecção ou por irritação decorrente do contato com substâncias contidas em sabão ou detergente.

Durante o artigo, vamos descrever as principais causas da paroníquia, assim como suas manifestações, a forma de prevenção e o tratamento. Continue lendo e confira.

Paroníquia aguda

Assim como já falado, a paroníquia aguda é a inflamação dos dedos ao redor da unha que dura menos de 6 meses.

Saiba mais sobre ela.

O que causa a paroníquia aguda?

A paroníquia aguda pode ser causada por infecções ou por reação aos medicamentos

Infecciosa

O comprometimento da função de barreira da pele ao redor da unha gera predisposição à penetração de agentes infecciosos a partir de:

  • Trauma de origem mecânica: roer unha e traumatismo por manicure, chupar o dedo e cutucar a unha da mão, além da unha encravada no dedo do pé.
  • Química: contato com detergente e sabão.

Ambos os traumatismos permitem a penetração de agentes infecciosos, como estafilococo e estreptococo, bactérias pertencentes à flora normal da pele, além de pseudomona aeruginosa, que ocorre menos frequentemente.

Além disso, a infecção também pode ocorrer por bactérias provenientes da cavidade oral, pelo hábito de levar o dedo à boca, como:

  • Aeróbias: necessitam de oxigênio para sobreviver. As principais bactérias são estreptococo, estafilococo aureus e eikenella corrodens.
  • Anaeróbias: dispensam o oxigênio para se manterem vivas e representadas pelo fusobacterium.
  • Herpes simples: é mais raro.

Medicamentosa

A paroníquia aguda também pode ser causada por alguns tipos de medicamentos:

  • Inibidores do receptor do fator de crescimento epidérmico como cetuximabe, erlotinibe e panitumumabe,
  • Agentes quimioterápicos como metotrexato e doxorubicina,
  • Retinoides sistêmicos como isotretinoina (Roacutan) e acitretina
  • Medicamentos dirigidos contra vírus.

Como a paroníquia aguda se manifesta?

A paroníquia aguda se manifesta por eritema (vermelhidão) e inchaço das dobras das unhas, de instalação rápida (2 a 5 dias), acompanhado de dor intensa e com história de pequeno traumatismo, antecedendo a lesão (foto 1).

Paroniquia aguda

Foto 1. Paroniquia aguda, apresentando inflamação intensa (vermelhidão e inchaço) ao redor da unha do dedo da mão. Foto cedida pelo Dr. Samuel Freire do Atlas Dermatológico.
Gradualmente, vai acumulando pus e denunciado pela coloração amarelada, geralmente ao redor da unha (foto 2), mas podendo se infiltrar abaixo dela (foto 3).

Paroníquia aguda intensa, onde se observa pústulas (coleção de pus) e inflamação ao redor da unha do dedo médio da mão

Foto 2. Paroníquia aguda intensa, onde se observa pústulas (coleção de pus) e inflamação ao redor da unha do dedo médio da mão.
Paroniquía aguda com coleção de pus abaixo da unha do dedo médio

Foto 3. Paroniquía aguda com coleção de pus abaixo da unha do dedo médio.

Na maioria dos casos, é limitado às dobras lateral e proximal da unha. Nos casos graves, pode se estender até o contorno distal e se limita a um dedo, porém, quando estiver relacionado aos medicamentos, pode atingir vários.

Quando afeta os pés, o primeiro dedo (dedão) é o mais afetado. Esses casos, geralmente, estão relacionados com unha encravada (foto 4)

Paroníquia aguda no primeiro dedo do pé

Foto 4. Paroníquia aguda no primeiro dedo do pé, manifestada por intensa inflamação e secreção de pus. Foto cedida pelo Dr. Samuel Freire do Atlas Dermatológico.
Raramente, a paroníquia pode se aprofundar na pele e a bactéria atingir o osso do dedo, gerando osteomielite.

Exames complementares

Quando for evidenciado a presença de coleção de pus, a cultura bacteriológica e antibiograma podem ser úteis a fim de identificar o antibiótico mais efetivo, porém, na maioria dos casos, esse exame é desnecessário.

Tratamento da paroníquia

Quando a paroníquia ainda está na fase inicial, sem abscesso, deve ser utilizado antibiótico por via tópica. Quando for decidido utilizar antibiótico por via oral, a escolha dependerá diretamente do caso, definido pelo médico.

Na presença de abscesso, deve ser realizada a drenagem do pus.

Nos casos de paroníquia por unha encravada, recomenda-se a remoção parcial dela, correspondente ao lado afetado e incluindo a destruição da matriz, a pele que antecede a visualização da unha.

Esse procedimento garante que a unha nasça mais estreita, prevenindo o seu encravamento.

Vale ressaltar que jamais deve ser removido toda a unha, uma vez que isso resulta na lesão permanente de sua matriz e, consequentemente, da unha que reaparecer.

Quando a paroníquia for provocada por medicamento, é suficiente apenas a suspensão dele.

Paroníquia crônica

A paroníquia crônica é aquela cuja inflamação do dedo ultrapassa 6 semanas. Saiba mais sobre ela.

Quais as causas da paroníquia crônica?

É provocado pela irritação persistente induzida por substâncias como sabão e detergente, em um ambiente constante de umidade. Por isso, é comum aos que trabalham nas funções de cozinheiro, donas de casa e profissionais da área de saúde.

Menos frequentemente, pode ser desencadeada por processo alérgico a alguma substância em contato com a pele, constituindo a dermatite de contato alérgica.

A inflamação é agravada nos portadores de psoríase (foto 5a e 5b) e nos de dermatite atópica.

Psoríase ao redor das unhas

Fotos 5a e 5b. Psoríase ao redor das unhas e sobre as articulações dos dedos da mão, manifestada por lesões avermelhadas cobertas por escamas, além de grande comprometimento da superfície das unhas.

Apesar de o fungo cândida poder ser encontrado na pele afetada, ele não participa da indução da doença, o que é comprovado pela manutenção do processo, mesmo após tratamento específico para cândida. No máximo, pode contribuir para a persistência da paroníquia.

Como se manifesta a paroníquia crônica?

Ao contrário da paroníquia aguda, a inflamação é mais discreta, manifestada por eritema (vermelhidão) e inchaço ao redor da unha, correspondente à parte lateral e proximal da mesma (foto 6).

Paroníquia crônica

Foto 6: Paroníquia crônica, onde se observa inflamação discreta ao redor das unhas dos dedos da mão. Essa inflamação compromete a matriz da unha, situada abaixo dela, gerando alterações na sua superfície (estrias longitudinais).

À medida que se prolonga a inflamação, começa a ocorrer uma retração na parte proximal, correspondente à perda da cutícula (foto 7).

Paroníquia crônica

Foto 7. Paroníquia crônica que gerou grande retração da pele ao redor da unha, além de modificação da superfície da unha (estrias longitudianis).

A agressão à matriz da unha, correspondente à pele que antecede a sua parte proximal, gera inflamação do dedo e consequente alterações em sua superfície, manifestada por ondulações transversais e podendo gerar até um sulco ainda mais profundo na sua parte proximal, conhecido como Linha de Beau (foto 8).

Linha de Beau

Foto 8.Linha de Beau, manifestada por depressão na parte proximal da unha gerada pela interrupção da sua formação, em consequência da inflamação da sua matriz, correspondente à pele que antecede a unha.

Mantido a agressão à matriz, pode haver alteração de toda superfície da unha, semelhante ao aspecto de uma lixa, conhecido por traquioníquia (fotos 9). Essa condição pode levar ao desprendimento de toda unha, denominado onicomadese, além de deformidade permanente dela.

Traquinoíquia

Foto 9. Traquinoíquia manifestada por aspereza da superfície das unhas, afetando os dedos polegares.

A evolução crônica pode alternar com surtos agudos, manifestada por exacerbação da inflamação, descrita anteriormente.

É comum a persistência da inflamação do dedo, correspondente à pele ao redor da unha, atrair a bactéria pseudomona (foto 10), que gera o aparecimento de uma cor esverdeada da unha em consequência da liberação de um pigmento pela bactéria.

Infecção pela bactéria pseudomona na unha do dedo

Foto 10. Infecção pela bactéria pseudomona na unha do dedo médio, apresentando comprometimento de grande parte da mesma (cor esverdeada), além de inflamação ao redor da unha.

Exames complementares

O diagnóstico, na grande maioria das vezes, é baseado apenas no exame da pele.

Nos raros casos suspeitos de reação alérgica ao contato com alguma substância, conhecida como dermatite de contato, deve ser realizado teste alérgico de contato.

O exame histopatológico, através de biópsia da pele, na grande maioria das vezes, não é necessário, exceto se houver suspeita de associação com outra doença no local, como o câncer de pele.

Tratamento da paroníquia crônica

A prevenção dos fatores indutores da paroníquia crônica é muito importante, como manter as mãos secas e distante do contato com sabões e detergentes.

Quando for inevitável o trabalho envolvendo esses irritantes, as mãos devem ser protegidas com luva de tecido de algodão, utilizada antes da de borracha.

É muito importante ter o cuidado de evitar o traumatismo provocado pela manicure, através da remoção da cutícula da unha, já que esta funciona como uma proteção contra a matriz da unha e também de paroníquia.

As unhas devem ser cortadas frequentemente, mas com cuidado! Deve-se evitar traumatismo com objetos cortantes, como tesouras e cortadores, assim como o hábito de roê-las.

O tratamento dirigido ao controle da inflamação consta da aplicação de creme contendo corticosteroide, que dependerá diretamente do caso. Outra opção é o uso de pomadas com medicamento anti-inflamatório.

O tratamento dirigido ao fungo cândida, assim como acontece na paroníquia aguda, é ineficaz.

Vale ressaltar que apenas um dermatologista poderá avaliar o seu caso e definir qual é a melhor abordagem. Entre em contato conosco para agendar uma consulta com um especialista e iniciar o seu tratamento.