Saiba mais sobre carcinoma espinocelular, um dos tipos de câncer de pele

Dr. Sergio Paulo

O carcinoma espinocelular, também conhecido como CEC, é um câncer de pele muito comum.

Ele é originado nos queratinócitos, uma célula que fica localizada na camada mais superficial da pele, chamada epiderme.

Essa doença pode ser desencadeada por diversos fatores, mas principalmente pela exposição ao sol.

Continue lendo para saber mais sobre e tirar suas dúvidas.

Incidência do carcinoma espinocelular

Esse é o segundo câncer de pele mais frequente, representando 20% desses tumores malignos e que não incluem o melanoma.

Nos últimos 20 anos, os casos têm aumentado significativamente, motivado pelos seguintes fatores:

  • maior exposição da população ao sol
  • uso de câmera de bronzeamento artificial
  • envelhecimento da população
  • aperfeiçoamento do diagnóstico do tumor.

Reforçando a influência da exposição ao sol, o carcinoma espinocelular é mais frequente nos países com maior incidência solar. Além disso, há variação no próprio país, conforme a proximidade com linha do equador.

A incidência também aumenta à medida que a pessoa envelhece. Acima dos 75 anos, por exemplo, é 300 vezes mais frequente do que na faixa etária abaixo de 45.

É muito mais frequente em pacientes brancos do que em negros. Nos Estados Unidos, a incidência em mulheres e homens brancos é de 150 e 360 por 100.000 habitantes, respectivamente, enquanto em negros é de apenas 3 por 100.000. 

Quais são os fatores de risco do carcinoma espinocelular?

Veja quais são os principais fatores de risco para o desenvolvimento desse câncer de pele.

Radiação ultravioleta

É o principal fator de risco do carcinoma espinocelular. O desenvolvimento do tumor é resultado do efeito cumulativo do sol, especialmente a radiação ultravioleta B durante a vida.

Já os outros dois tipos de câncer de pele mais frequentes, o carcinoma basocelular e o melanoma, são induzidos pela exposição intermitente, ou seja, devido a queimaduras solares ocasionais.

Essa diferença explica a maior incidência na população mais idosa. Além deles, existem outras pessoas que são mais susceptíveis a essa doença, como quem:

  • se expõem mais ao sol, como agricultores e marinheiros
  • faz bronzeamento artificial em câmaras que emitem radiação ultravioleta A
  • realiza fototerapia envolvendo a emissão de raios ultravioleta (B).

Outros fatores que influenciam são a intensidade de exposição ao sol nos últimos 5 a 10 anos, a cor da pele, dos olhos e dos cabelos.

Radiação ionizante

A radiação ionizante é aquela que consegue interagir com as células do organismo e causar câncer, como o carcinoma espinocelular.

As principais fontes desse tipo de radiação são:

  • bombas atômicas, como a que ocorreu no Japão
  • radioterapia de tumores malignos
  • radiografia, que permite o diagnóstico por imagem.

Exposição ao arsênico

Alguns países, como Taiwan e México, têm grande concentração de arsênico na água potável. Por isso contam com uma alta incidência de carcinoma espinocelular.

A exposição no trabalho também contribui.

Fator genético

Pessoas que têm outros membros na família com carcinoma espinocelular têm duas a três vezes mais chance de desenvolverem esse câncer de pele.

Os portadores de xeroderma pigmentoso, outra doença hereditária, têm 2000 vezes maior risco de adquirirem, sempre a partir da juventude.

Outras condições, de origem genética, que também implicadas na predisposição a esse problema são:

  • albinismo
  • epidermólise bolhosa
  • epidermodisplasia verruciforme.

Imunossupressão adquirida

A diminuição da imunidade induzida por doenças, como a AIDS, por medicamentos para evitar a rejeição de transplante de órgãos, no tratamento de câncer e no controle de doenças autoimunes, com corticosteroide, aumenta muito o risco de surgimento do CEC. Além disso, predispõe a tumores mais agressivos, o que influencia o perigo de metástase.

Inflamação crônica da pele

Inflamação da pele de longa duração também aumenta as chances do paciente desenvolver carcinoma espinocelular de forma muito agressiva.

Entre os principais tipos de inflamação, podemos citar:

  • cicatrizes resultados de queimaduras
  • úlcera de longa duração na perna
  • fístulas
  • líquen escleroso na área genital da mulher.

Fumo

Os fumantes e usuários de tabaco têm mais possibilidades de desenvolverem o CEC na boca, variando de 20% a mais de duas vezes, comparado aos não fumantes.

Infecção pelo papilomavírus (HPV)

Há a teoria que a infecção pelas variantes do tipo 5, 8, 15, 17, 20, 24, 36 e 38 aumentam as chances de aparição desse tumor.

Apesar disso, atualmente, tem surgido dúvidas sobre essa relação.

Medicamentos

Os pacientes que utilizam medicamentos que induzem as queimaduras de sol, como os utilizados para combater a hipertensão arterial, o psoraleno associado à fototerapia para tratar doenças, como vitiligo e a psoríase, são mais propensos a desenvolver o carcinoma espinocelular.

Outros medicamentos também predispõem ao tumor, como:

  • azatioprina, utilizada para tratar doenças autoimunes
  • o vemurafenib e dabrafenib, úteis no tratamento de metástase de melanoma.

Não existe comprovação da associação com dietas ricas em leite e gordura, selênio e vitamina D.

Como o carcinoma espinocelular se manifesta?

Pode surgir em qualquer parte da pele e das mucosas, inclusive ao redor das unhas, mucosa oral e região anogenital.

Em pessoas brancas, predomina a área exposta ao sol. Nas negras, é mais frequente na parte protegida do sol, como as pernas, região ao redor do anus, genitais e sobre cicatrizes antigas.

Na região genital e ao redor das unhas está relacionado à infecção pelo HPV.

A Doença de Bowen representa uma lesão pré-cancerosa consequente à exposição solar, vírus do HPV e até intoxicação por arsênico. Esta última devido à alta concentração dessa substância na água potável, não existente no Brasil.

Manifesta-se por uma placa eritematosa (avermelhada), bem delimitada e coberta por escama espessa, como na foto 1, abaixo.


Foto 1: Doença de Bowen com placa coberta por escama espessa

A evolução para um verdadeiro carcinoma espinocelular é denunciado pelo aparecimento de ulceração e consequente crosta.

O tumor menos agressivo (menor capacidade de metástase), conhecido como ceratoacantoma, manifesta-se como nódulo com depressão central (foto 2) e está preenchida por material conhecido como queratina.


Foto 2: Carcinoma Espinocelular manifestado por nódulo e depressão central

Apesar de crescer inicialmente mais rápido do que as outras variedades, é o tipo menos agressivo ao ponto de desaparecer espontaneamente.

Os tumores que se originam na pele exposta ao sol, especialmente a partir da ceratose actínica (foto 3), o que ocorre em 60% dos casos, são menos agressivos, ou seja, têm menor capacidade de metástase.


Foto 3: Ceratose Actínica em couro cabeludo

Nesse câncer, desenvolvem-se placas ou nódulos com superfície áspera, endurecidos ou firmes, medindo geralmente entre 0,5 a 1,5, como mostra a foto 4, abaixo.


Foto 4: Carcinoma Espinocelular com tumores (seta 1) em diferentes estágios evolutivos a partir de ceratose actínica (seta 2)

Os casos de maior duração podem atingir grandes dimensões. Os mais agressivos apresentam pápulas ou nódulos carnudos com superfície mais lisa, além de terem maior capacidade de ulcerar (formar feridas) e sangrar facilmente.

Aqueles mais profundos, geralmente, são assintomáticos, porém podem ser dolorosos e causar prurido (coceira).

Os que atingem a parte mais profunda da pele, ao ponto de invadirem os nervos, geram outros sintomas, como:

  • sensação de dormência
  • ardência
  • queimação
  • paralisia motora
  • alterações na visão.

Aqueles que aparecem no lábio inferior surgem a partir da queilite actínica (foto 5), correspondente à ceratose actínica no lábio. Esses tumores têm maior probabilidade de metástase.


Foto 5: Queilite Actínica manifestada por erosões e placas esbranquiçadas

Ainda mais agressivo são os localizados na mucosa oral, especialmente no assoalho da boca, com grande risco de serem fatais.

Os gânglios correspondentes ao câncer primário devem ser examinados através da palpação, como os do pescoço, de modo a detectar metástase.

O diagnóstico clínico pode ser confirmado através de exame histopatológico, realizado através de biópsia.

Além desse exame, pode-se utilizar o dermatoscópio, aparelho aplicado sobre a pele que permite maior visualização das suas estruturas, ajudando muito na identificação.

Tratamento do carcinoma espinocelular

Os cuidados podem variar conforme a área e com a sua seriedade.

Nos iniciais, de baixo risco, recomenda-se a curetagem e eletrocoagulação. Essa técnica também pode ser utilizada em situações de múltiplos tumores, em pacientes com transplante de órgão, por exemplo.

A operação de remoção, com margens de segurança entre 0,5 e 1 centímetro, além de atingir toda a profundidade da pele, é o melhor tratamento. 

A cirurgia micrográfica de Mohs é uma variante, indicada em situações que já recidivaram, com limites mal definidos e de alto risco. Nela, todo material removido é examinado no microscópio.

Outra opção é a criocirurgia, indicada para as condições de baixo risco de metástase e de recidiva, muito aconselhável para quem tem contraindicação de cirurgia. Ela faz a destruição de tecido através da aplicação do frio, com o nitrogênio líquido.

A radioterapia é indicada em pacientes idosos, para reduzir o tumor antes de cirurgia, substituir esse procedimento ou ainda como complemento da mesma.

Ao notar anormalidades e desconfiar de carcinoma espinocelular ou qualquer outro tipo de problema, procure um dermatologista para fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento.

Se você quer saber mais sobre câncer de pele, continue lendo no nosso blog.






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