Está com inflamação nos lábios? Pode ser queilite

Dr. Sergio Paulo


A queilite é uma inflamação dos lábios que pode se estender para a pele ao redor e até para dentro da boca (mucosa oral).

Durante a pandemia do coronavírus a sua frequência aumentou, principalmente a queilite por irritante primário, consequência do ato de lamber os lábios de forma compulsiva, uma manifestação de ansiedade.

Esse problema manifesta-se por vermelhidão, ressecamento e consequente descamação. Além disso, pode haver o aparecimento de fissuras e inchaço nos lábios. Em alguns casos, é acompanhado pelas sensações de coceira e ardência.

Ficou interessado em saber mais? Então, continue lendo esse post e tire suas dúvidas sobre as causas da queilite, sua prevenção e tratamento.

Quais as causas da queilite?

A queilite conta com diversas causas, tanto endógenas (constitucionais) quanto externas.

Uma das mais frequentes é a endógena. Ela consiste na alergia hereditária, associada a asma, rinite e dermatite atópica.

Já a de origem externa mais frequente é a dermatite de contato, com suas variantes:

  • Dermatite de contato de origem alérgica
  • Dermatite de contato não alérgica, conhecida como queilite de contato por irritante primário.

Outras doenças que se originam em outras partes da pele ou de origem interna podem também atingir os lábios, como:

  • Líquen plano
  • Sarcoidose
  • Doença de Crohn
  • Lúpus eritematoso 
  • Deficiência nutricional

Quais os tipos de queilite?

A queilite pode ser dividida em diferentes tipos, dependendo da causa do problema. Saiba mais sobre cada uma delas.

Queilite eczematosa

É a forma clínica mais frequente. Pode ocorrer devido a uma predisposição hereditária, associada à dermatite atópica ou influenciada por fatores externos. Estes, geram inflamação dos lábios por mecanismo alérgico ou não (dermatite por irritante primário).

Os principais sintomas da queilite eczematosa são:

  • Ressecamento
  • Descamação
  • Vermelhidão
  • Fissuras

Todos esses sintomas envolvem os lábios, mas também podem se estender para a pele ao redor ou, em alguns casos, para a mucosa oral.

Queilite por irritante primário

Constitui a forma clínica mais frequente. A causa mais comum é a irritação mecânica relacionada ao atrito da língua com os lábios, através do hábito de lambê-los de forma repetitiva e compulsiva. (foto 1 e foto 2)

Foto 1 e 2: Queilite por irritante primário, afetando os lábios e região ao redor, constituído por eritema (vermelhidão) e descamação, decorrente do hábito de atritar a língua com o local

Outros fatores que também podem participar dessa irritação são o clima frio e com baixa umidade, produtos de higiene oral e certos alimentos.

Queilite por dermatite de contato alérgica

Nesses casos de queilite, é necessária uma sensibilização alérgica prévia, através do contato de uma substância com os lábios. Os maiores responsáveis são:

  • Instrumento musical
  • Filtro solar
  • Produtos cosméticos, como esmalte de unha
  • Produtos de maquiagem e batom

Os ingredientes contidos no batom mais responsáveis pela dermatite de contato são própolis, óleo de rícino, resinas e conservantes.

As mulheres são mais afetadas do que os homens por terem maior contato com os cosméticos. Também podem participar dessa alergia a pasta de dente, frutas cítricas, canela e manga.

A manifestação desse tipo de queilite compreende:

  • Fissuras
  • Vermelhidão
  • Coceira
  • Inchaço
  • Vesículas (bolinhas d’água)
  • Ulcerações superficiais. 

Pode se estender ao redor dos lábios e até para outras partes do corpo. A coceira é mais intensa do que na queilite por irritante primário.

Em relação aos exames complementares para confirmar o diagnóstico de queilite por dermatite de contato alérgica, o teste de contato é muito importante para identificar o produto contactante responsável. (foto 3)

Foto 3: Teste de contato utilizado para identificação da substância causadora da alergia em contato com a pele.

Queilite atópica

A aparência clínica é indistinguível da queilite por irritante primário. Pode se estender ao redor das comissuras labiais e a outras partes do rosto (foto 4 e foto 5). Esta pode também ter localizações típicas, como o rosto e as dobras dos cotovelos e dos joelhos.

Foto 4: Dermatite atópica manifestada por queilite, onde se observa lesões avermelhadas nos lábios e ao redor.

Foto 5: Queilite atópica onde se observa, além de lesões nos lábios, também ao redor da comissura labial, constituída por lesão avermelhada e infiltrada.

O diagnóstico é feito, principalmente, pela detecção de outras manifestações de atopia, como rinite e asma, além de dermatite atópica. 

Queilite associada a ingestão de retinoide

A ingestão de isotretinoína (Roacutan), usada no tratamento da acne, e da acitretina, derivados da vitamina A, assim como outros medicamentos, como o benzodiazepínicos, utilizados para combater a insônia, podem gerar sensação de boca seca, inclusive ressecamento, descamação, vermelhidão e fissuras nos lábios. (foto 6)

Foto 6: Queilite decorrente do uso oral da Isotretinoína, para o tratamento da acne, onde se observa descamação intensa, além de eritema nos lábios.

Queilite solar

É uma doença pré-maligna gerada pela exposição solar ao longo de muitos anos.

A população de pele clara que se expõe muito ao sol, seja decorrente da profissão ou de atividade de lazer, e que vive em países com alta intensidade de sol como o Brasil, é mais propensa a desenvolver a doença.

Os homens são mais afetados do que as mulheres. Afeta o lábio inferior, por receber maior quantidade de radiação solar do que o superior.

Manifesta-se por:

  • Descamação
  • Ulcerações (feridas) superficiais
  • Mancha branca.

Normalmente, no início, há o aparecimento de uma lesão solitária, que pode se transformar em múltiplas lesões.

Nesses casos, desaparece a nitidez do limite do lábio com a pele ao redor, dando a essa separação um aspecto borrado. (foto 7)

Foto 7: Queilite actínica, onde se observa erosões e placas esbranquiçadas (leucoplasia) em lábio inferior, decorrente da exposição crônica ao Sol.

Se não for tratada, pode evoluir para o carcinoma espinocelular (CEC), identificado a partir da palpação do lábio, onde é detectado uma sensação de endurecimento da base da lesão, ainda na fase precoce da doença.

O surgimento de lesões nodulares (caroços) e feridas mais profundas e persistentes denunciam a evolução para fase mais avançada do CEC. (foto 8)

Foto 8: Carcinoma espinocelular, com lesão elevada,  originada a partir da queilite actínica (lesão esbranquiçada ao redor do tumor).

O carcinoma espinocelular, que surge a partir da queilite actínica, tem mais chance de desenvolver metástase para outros órgãos do que o da ceratose actínica, seu equivalente na pele.

Queilite angular

Também conhecida por perleche ou boqueira, esse tipo de queilite pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais frequente nos idosos, em consequência de modificação da arquitetura dos lábios, decorrente da perda dos dentes.

Pode ser causado por infecção pelo fungo cândida e, menos frequentemente, pelas bactérias estafilococo ou estreptococo, além da deficiência nutricional relacionada à vitamina B12 ou de ferro.

Em crianças, está relacionada ao hábito de chupar dedo, lamber os lábios ou morder os cantos deles.

Nos idosos, ocorre a partir do uso de prótese dentária, que gera acúmulo de saliva e um ambiente úmido, ideal para a proliferação do fungo cândida.

Também é frequente em pacientes portadores de AIDS, que também têm maior predisposição a desenvolver candidíase.

Manifesta-se por vermelhidão dos lábios, coberto por escamas esbranquiçadas e fissura (ferida de forma linear) no ângulo dos lábios, geralmente atingindo os 2 cantos da boca. (foto 9)

Foto 9: Queilite angular manifestado por eritema (vermelhidão), escama e fissura (ferida de forma linear) na comissura labial.

Qual o tratamento da queilite?

O tratamento da queilite dependerá diretamente do seu tipo, assim como das manifestações atuais do problema.

Queilite por dermatite de contato alérgica, por irritante e atópica

No caso da  queilite provocada por dermatite de contato alérgica ou por irritante, é fundamental evitar contato com a substância responsável pela irritação, especialmente entre os portadores de dermatite atópica.

Além disso, também é possível aplicar cremes contendo corticosteróide com ação anti-inflamatória para controlar os sintomas. O período dependerá diretamente do caso.

Nos casos de queilite atópica e por irritante primário, pode-se utilizar cremes hidratantes de forma contínua, após controlar a inflamação.

Vale ressaltar que os portadores de queilite por irritante primário devem ser acompanhados por um psicoterapeuta a fim de combater a compulsão do hábito de lamber os lábios, através do uso de medicamentos dirigidos à ansiedade e à depressão.

Queilite por retinóide

Já nos casos de queilite por retinóide, deve-se realizar a consulta com um dermatologista para ser prescrito a aplicação de creme hidratante, após as refeições, até o término do tratamento da acne. 

Queilite solar

Para os casos de queilite solar, deve-se tomar medidas preventivas de exposição ao sol, como:

  • Usar filtro solar, diariamente, para o lábio
  • Utilizar chapéu de aba larga
  • Evitar exposição direta ao sol no horário de maior intensidade dos raios ultravioleta B (10 às 16 horas).

O tratamento dependerá das lesões, assim como dos sintomas dos pacientes. Aqui, no ProntoPele, utilizamos a crioterapia, um método que utiliza jatos muito frios de nitrogênio líquido.

Além disso, também há outras opções disponíveis, como:

  • Aplicação de cremes contendo 5-fluoruracila ou imiquimod
  • Laser
  • Terapia fotodinâmica
  • Vermelhectomia, que consiste na remoção do lábio, recomendada para os casos mais intensos.

É muito importante que o paciente entenda que a exposição prolongada ao sol durante a vida gera um campo cancerizável no lábio, o que permitirá o reaparecimento de novas células de câncer após o tratamento.

Isso quer dizer que todos os pacientes que tiveram queilite solar devem realizar revisões anuais com o dermatologista para identificar essa condição, de forma precoce.

Queilite angular

O tratamento da queilite angular consiste na aplicação de cremes antifúngicos após as refeições ou o uso de antibióticos, dependendo diretamente do caso do paciente.

Também é importante corrigir a oclusão dos dentes e manter a higiene bucal.

Independente do tipo de queilite, deve-se consultar um dermatologista para avaliar qual é a melhor forma de tratamento para o seu caso.

Conte conosco para isso. Entre em contato conosco para agendar sua consulta com um especialista, onde você será atendido, preferencialmente, no mesmo dia de sua ligação.