Eritema polimorfo: saiba mais sobre essa doença inflamatória

Dr. Sergio Paulo

O eritema polimorfo (EP) é uma síndrome de hipersensibilidade da pele, uma alergia caracterizada pelo aparecimento súbito de inflamação da pele e das mucosas da boca, do órgão genital e dos olhos, mediada pelo sistema imunológico.

Essa doença pode ser causada por diversos motivos, mas está relacionada principalmente a infecção do herpes simples e, menos frequentemente, alergia a medicamentos, por via oral ou injetável.

A variante Major é caracterizada pelo comprometimento da pele e das mucosas, além de apresentar febre e dor nas articulações. Já a variante Minor, não apresenta outros sintomas e é mais discreta.

Pode gerar coceira e sensação de queimação, causando incômodo ao paciente e sendo considerado uma urgência dermatológica. 

Durante o texto, vamos relatar as principais causas dessa alergia da pele, tanto de origem infecciosa quanto medicamentosa, além das manifestações na pele e nas mucosas da boca e genital. Tratemos também maneiras de se prevenir e o tratamento adequado. Continue lendo e confira.

Incidência do eritema polimorfo

O eritema polimorfo não é uma doença frequente.

Afeta principalmente adultos jovens na faixa etária de 20 a 40 anos. Apesar disso, cerca de 20% dos casos ocorrem em crianças.

O que causa o eritema polimorfo? 

Varias causas podem ser responsáveis, sendo a infecciosa a mais frequente

 

Hereditária

Existe uma certa predisposição genética para desenvolver a doença. 

Origem infecciosa

. A infecção pelo herpes simples é a principal responsável, em 50% dos casos.  

Outras causas de origem infecciosa são: 

  • viral: como coronavírus, varicela-zoster, hepatite C e HIV,
  • vacinas contra os seguintes vírus: coronavírus, difteria, tétano, hepatite B e varicela (catapora),
  • bacteriana: mycoplasma pneumoniae, importante causa em crianças- a partir de infecção das vias respiratórias-, hanseníase, tuberculose e salmonella
  • fúngica: histoplasma capsulatum e tinha (impinge).

Origem medicamentosa

O eritema polimorfo também pode ser causado por medicamentos. Essa é a segunda maior causa, mas é responsável por menos de 10% dos casos.

Destes, os mais frequentes são: 

  • dipirona
  • antibióticos, como penicilina, ampicilina, tetraciclina, sulfa e ciprofloxacino
  • anticonvulsivantes, como fenobarbital, hidantoína e carbamazepina
  • ácido acetil salicílico
  • prometazina
  • d-penicilamina
  • novos medicamentos, como candesarten, cilexitil, rifocoxib, refocoxib, adalimimab e bupropiona

Gravidez

Como se manifesta o eritema polimorfo? 

Como sugere o nome, existe um polimorfismo de lesões, ou seja, diferentes manifestações, como:

  • manchas avermelhadas (foto 1),
  • pápulas (carocinhos),
  • inchaços (infiltração) (foto 2 da perna),
  • vesículas (“bolhinha d’água”),
  • bolhas (foto 3 da perna). 
Eritema polimorfo na perna
Foto 1: Eritema polimorfo na perna, manifestado por eritema (mancha avermelhada), com centro mais escuro no centro das lesões, característico da doença.  

Eritema polimorfo na parte mais inferior da perna
Foto 2: Eritema polimorfo na parte mais inferior da perna, onde se observa lesão elevada por infiltração da pele (inchaço), cor vermelho escura, além de vesículas e bolhas na borda da lesão. 

Eritema polimorfo manifestado por, além de inchaço e vermelhidão, vesículas e bolhas na perna, estas últimas consequente à maior inflamação da pele
Foto 3: Eritema polimorfo manifestado por, além de inchaço e vermelhidão, vesículas e bolhas na perna, estas últimas consequente à maior inflamação da pele. 

Além disso, surge uma lesão elevada e avermelhada, cujo centro é composto por vesícula ou mancha escura. Esta última gera um “aspecto em alvo” (foto 4 A e B). 

Eritema polimorfo no dorso
Eritema polimorfo no dorso
Fotos 4A e 4B: Eritema polimorfo no dorso, localização muito frequente, onde se observa lesão típica, manifestada pelo escurecimento no centro (“aspecto em alvo”) e cercada por halo composto por vesículas (bolhinhas d’água)  

Pode se manifestar por uma mancha central escura, circundada por um halo com aspecto edemaciado (inchado) mais pálido do que a lesão central e,perifericamente, podendo surgir uma mancha avermelhada (foto 5A e 5B) ou vesículas sobre ela.

Eritema polimorfo no abdômen
Eritema polimorfo no abdômen
Fotos 5A e 5B: Eritema polimorfo no abdômen, manifestado por lesão típica, constituído por lesão central mais escura, cercada de halo pálido e eritema (lesão avermelhada) na periferia. 

Geralmente, essas lesões típicas medem menos de 3 centímetros.

A distribuição das lesões é muito característica. Inicia-se no dorso das mãos e dos pés, sempre de forma simétrica.  

Muito sugestivo da doença é o comprometimento das palmas e plantas, onde surgem lesões avermelhadas com “tonalidade de vinho tinto” que podem ou não apresentar o centro escuro (aspecto em alvo) (foto 6).

Eritema polimorfo nas palmas das mãos
Foto 6: Eritema polimorfo nas palmas, localização muito sugestivo da doença, manifestado por lesões avermelhadas, com tonalidade mais escura e com bolhas no centro.  

Evoluem para atingir outras partes do corpo, de forma centrípeta (da periferia para o centro do corpo), quando podem chegar a comprometer o rosto, o pescoço e o tronco. 

As lesões podem ser acompanhadas de coceira ou de ardor. 

Um quarto dos pacientes têm acometimento das mucosas genital, ocular e da boca,esta, a mais afetada.  

É muito característico o comprometimento dos lábios que apresentam crostas avermelhadas e espessas sobre lesões ulceradas (foto 7).

Eritema polimorfo atingindo o lábio inferior e a língua
Foto 7: Eritema polimorfo atingindo o lábio inferior e a língua, onde se observa feridas cobertas por crostas sanguinolentas, estas mais evidentes no lábio. 

Na boca, manifesta-se por vermelhidão difusa e por bolhas. Estas, ao se romperem, se transformam em erosões (feridas), que são responsáveis pela dor e consequente dificuldade para se alimentar.  

Raramente a inflamação pode se estender à faringe e à laringe.  

Os gânglios (ínguas) podem ser acometidos, correspondente às regiões atingidas da pele.

Quando existe acometimento das mucosas, embora possa ser provocado por infecção, considera-se que os medicamentos sejam responsáveis por 10 a 20% desses casos.  

Já quando surgem múltiplas recorrências, superior a seis ao ano, estão relacionadas a infecção pelo herpes simples, não obrigatoriamente tendo que haver a concomitância das duas doenças em cada episódio. 

Atualmente, considera-se uma doença espectral: a maioria dos doentes desenvolve a forma Minor, onde, além da pele, compromete apenas uma mucosa. Apenas cerca de 20% dos casos evoluem para a forma Major, manifestado pelo comprometimento mais extenso das mucosas e da pele, podendo chegar a comprometer até a vida.

Raramente existe comprometimento do estado geral na forma Minor. Nesses casos, os pacientes podem se queixar de:

  • febre
  • sensação de corpo mole
  • dor muscular.

Esses sintomas podem ser observados mais frequentemente nos casos com maior comprometimento das mucosas, correspondente à forma Major.

A duração média de cada episódio de eritema polimorfo é de 2 semanas.

Tratamento

A grande maioria dos pacientes com eritema polimorfo não necessita hospitalização, exceto aqueles com grande comprometimento da mucosa oral que impossibilite a alimentação.

Nesses casos, devem ser internados para receber infusão venosa para alimentação parenteral e hidratação. 

Além disso, pode-se recomendar:

Tratamento do agente responsável

O tratamento específico dirigido ao agente causal é fundamental. Se a doença for desencadeada pelo herpes simples, este deve ser tratado nas primeiras 24 horas de sua instalação para ser eficaz no combate ao vírus, independente do inicio das manifestações do eritema polimorfo, já que este surge somente após varios dias de instalado o herpes simples. 

Já nos casos causados por medicamentos, recomenda-se a suspensão do fármaco responsável pelo episódio.

Tratamento específico da inflamação da pele

A inflamação da pele é tratada com a aplicação de creme contendo corticosteroide de média potência anti-inflamatória.

Também se pode recomendar a ingestão de anti-histamínico que gera sonolência para reduzir a sensação de coceira.

A associação de corticosteroide e anestésico aplicada nas ulcerações (feridas) da cavidade oral alivia a dor.  

Quando o comprometimento for muito extenso, é recomendado associar o tratamento tópico à ingestão de corticosteroide. Vale ressaltar que ainda há controvérsia em relação à sua eficácia.  

Quando a mucosa dos olhos for comprometida, deve ser solicitado o parecer de um oftalmologista, a fim de prevenir as graves sequelas, como cicatrizes na conjuntiva e até o comprometimento definitivo da visão. 

Prevenção das recorrências  

Nos casos de várias recorrências ao ano relacionadas à infecção pelo herpes simples, deve ser instituída a terapia supressiva antiviral durante pelo menos 6 meses. Atualmente, há diversas opções alternativas de tratamento e cabe ao médico responsável pelo caso escolher a ideal para o seu paciente.

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