Nevos melanocíticos congênitos: saiba mais sobre essas pintas na pele

Dr. Sergio Paulo

Os sinais mais escuros na pele são chamados na medicina de nevos melanocíticos.

Esses sinais são compostos pelo acúmulo de um tipo de células, chamada de névicas, que derivam de melanócitos, os produtores do pigmento melanina.

A melanina, por sua vez, é a substância responsável pela cor, o que justifica os pontos serem escuros.

Muitas vezes, essas pintas na pele são confundidas com câncer, mais especificamente com o melanoma.

Por mais que sejam dois problemas diferentes, eles estão diretamente ligados por:

  • aumento do número de nevos melanocíticos na infância e adolescência, em consequência da exposição ao sol, o que predispõe ao  melanoma
  • coincidência de localização dos sinais escuros e do melanoma
  • maior ocorrência de melanoma em membros da mesma família com grande quantidade de nevos melanocíticos.

Uma das variedades é o nevo melanocítico congênito (NMC), que como o nome já diz surge ao nascimento, ao contrário dos outros tipos.

Quer saber mais sobre o NMC e entender tudo que está por dentro dessas pintas na pele? Então, continue lendo e confira.

Incidência

O NMC acomete de 1% a 3% da população. Existem diversos tipos, uma vez que essas lesões podem ter diferentes tamanhos.

Vale ressaltar que essas pintas na pele surgem já no nascimento e são escuras.

Dentro dos tipos, há a variedade gigante, tem o risco de acontecer em 1 a cada 20.000 nascimentos.

O que faz um bebê nascer com pintas na pele?

O nevo melanocítico congênito é consequência da proliferação de células benignas que derivam de melanócitos durante a vida intrauterina.

Em outras palavras, as pintas na pele surgem porque as células que produzem o pigmento se dividem mais rapidamente do que deveriam.

Essa multiplicação acelerada é decorrente das mutações em alguns genes (alterações genéticas).

Quais são os tipos de nevos melanocíticos congênitos?

O NMC é classificado conforme o tamanho das pintas na pele:

  • NMC pequeno: menor que 1,5 cm (foto 1)
  • NMC médio: entre 1,5 e 19,9 cm (foto 2)
  • NMC grande: acima de 20 cm e até 40 cm,
  • NMC gigante: subdividido em G1, maior que 40 cm e G2, maior que 60 cm (foto 3).

Foto 1: Nevo melanocítico congênito de tamanho pequeno, com espessamento dos pelos

Foto 2: Nevo melanocítico congênito de tamanho médio, com numerosos pêlos sobre superfície elevada

Geralmente, os NMC são pequenos ou médios e podem se localizar em qualquer parte do corpo.

No início da vida, essas pintas na pele têm a aparência de uma mancha escura, sem elevação, com a mesma tonalidade em toda sua superfície.

Posteriormente, elas vão se tornando elevadas e adquirem aspecto rugoso ou cerebriforme, semelhante à superfície do cérebro (foto 3).

Esses sinais escuros crescem mais rapidamente no início da infância. Em relação a sua cor, ela varia do castanho ao preto, de pigmentação uniforme ou mosqueada.

A forma varia entre redonda ou oval, aspecto simétrico (podem ser divididos em duas partes iguais), bem delimitado, de bordas regulares, superfície homogênea e frequentemente elevada. A maioria tem excesso de pelo, que é escuro e grosso (foto 3).

Entretanto, alguns NMC, principalmente os de maior tamanho, apresentam aspecto assimétrico, além de bordas disformes, superfície irregular, rugosa ou nodular (como caroço elevado).

Essas últimas características tornam os sinais muito parecidos com um melanoma, o que pode dificultar a diferenciação entre esses tumores.

O NMC gigante pode se localizar em diversas partes do corpo, como: 

  • parte superior das costas e pescoço
  • parte central das costas e nádegas
  • área genital e nádegas em “Calção de Banho”(foto 3)
  • tórax anterior (peito) e/ou barriga
  • apenas extremidades, como pernas, coxas, braços e antebraços.

Foto 3: Nevo melanocítico congênito de tamanho grande, imitando calção de banho

– Envolvendo a maioria das partes do corpo, pela fusão das três primeiras localizações citadas acima e consequentemente, são os de maior tamanho (foto 4). 


Foto 4: Nevo melanocítico congênito de tamanho gigante, com lesões satélites ao redor

Os sinais escuros que se localizam no couro cabeludo têm uma evolução diferente das demais regiões do corpo. Isso se dá pela tendência de ir gradualmente adquirindo uma pigmentação mais clara ou até desaparecerem.

Essa predisposição em ser destruído é observada em outros locais do corpo pelo fenômeno halo, manifestado pelo surgimento de uma mancha acrômica (vitiligo) ao redor do tumor e que, gradualmente, substitui todo o sinal pelo processo de autoimunidade, ou seja, de autodestruição. É conhecido como nevo de Sutton (foto 5).


Foto 5: Nevo de Sutton, mancha branca (vitiligo), surgindo a partir de um nevo melanocítico adquirido (lesão residual no centro)

As pintas na pele que são gigantes apresentam sinais escuros satélites de menor tamanho ao redor do tumor principal (fotos 6 e 7).


Foto 6: Nevo melanocítico congênito de tamanho gigante, com numerosas lesões satélites ao redor

Foto 7: Lesões satélites do  nevo melanocítico congênito gigante representado por  numerosas lesões satélites ao redor

Observando o exame microscópio, o NMC pode atingir a maior profundidade da pele, chegando até a parte mais profunda da derme (segunda camada, abaixo da epiderme) e até o tecido celular subcutâneo (gordura), havendo o comprometimento de nervos e vasos sanguíneos.

Além disso, nesses casos, a epiderme apresenta maior espessura em consequência de maior proliferação das células.

Como é feito o diagnóstico das pintas na pele?

O NMC de pequeno tamanho é muito semelhante ao nevos melanocítico adquirido (NMA) (link interno), os “sinais escuros” que são muito mais comuns.

Já o nevo melanocítico adquirido, ao contrário do NMC, surge após os 6 meses de vida. Aumenta em número na infância e na adolescência, atingindo seu máximo na terceira década (foto 8).


Foto 8: Numerosas lesões de nevo melanocítico adquirido no dorso

A partir daí, começam a desaparecer lentamente até a oitava década, quando podem adquirir o mesmo número de sinais escuros da fase anterior à adolescência. A evolução difere do NMC, que na grande maioria das vezes não desaparece.

Outro fator que pode auxiliar a análise das pintas na pele é o seu tamanho. O NMA, geralmente, é menor do que o NMC.


Foto 9: Nevo Melanocítico adquirido, com pigmentação uniforme e bordas regulares.

Complicações dos NMC

Veja quais são as principais complicações dos NMC:

Melanoma

O risco das pintas na pele do tipo NMC, de pequeno e médio tamanho, transformarem-se em melanoma é controverso. Porém, aceita-se que seja menos de 1%, sendo que a maior probabilidade disso acontecer é na vida adulta.

Já os sinais escuros gigantes têm risco de transformação maligna entre 5 a 12%, onde a metade dessa transformação ocorre nos primeiros 5 anos de vida.

Infelizmente, é difícil reconhecer o melanoma que surge no interior das pintas na pele, visto que os dois tumores são semelhantes.

Para fazer essa distinção, um dermatologista deve examinar toda a extensão para detectar a transformação maligna por meio da palpação de nódulos profundos no interior do NMC..

Outro fator que dificulta o diagnóstico dessa doença é o fato do NMC gigante também se originar no sistema nervoso central (cérebro) e retroperitônio (dentro do abdômen).

Então, existe a possibilidade do melanoma se desenvolver nessas localizações e, consequentemente, não ser identificado sua origem no exame dermatológico.

Os nevos melanocíticos congênitos com maior probabilidade de desenvolverem melanoma são aqueles de tamanho gigante (maiores de 40 cm), localizados nas costas e associados com grande número de nevos satélites, já mostrados anteriormente nas fotos 6 e 7.

Além desse, outros tumores estão associados com essas pintas na pele: liposarcoma, rabdomiossarcoma e tumores malignos da bainha de nervo periférico.

Melanose neurocutânea

É raro o NMC desenvolver uma proliferação de melanócitos no sistema nervoso central (cérebro) e leptomeninges (membranas que envolvem o cérebro) com alto risco de mortalidade nos primeiros anos de vida.

Os fatores para o acometimento do sistema nervoso são os mesmos para o melanoma, ou seja:

  • NMC gigante, especialmente maior de 40 cm
  • localizado nas costas
  • numerosos nevos satélites
  • mais de 2 NMC de tamanho médio, principalmente se for em grande número.

As manifestações do acometimento neurológico são: hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro) e convulsão. Esta última é decorrente da compressão do sistema nervoso por hemorragia intracraniana, da dificuldade da livre circulação do líquido cérebro espinhal, da compressão da coluna vertebral ou do surgimento do melanoma no cérebro.

Para controlar os riscos dessas pintas na pele, recomenda-se a realização de exames complementares:

  • ressonância magnética para detectar as alterações neurológicas
  • exame histopatológico (biópsia)
  • dermatoscopia, exame que utiliza um aparelho aplicado sobre a pele para possibilitar a visualização das estruturas microscópicas do tumor, ajudando muito na confirmação do NMC e do melanoma. 

Tratamento

Tratar as pintas na pele envolve diversos cuidados, dependendo diretamente do seu tipo.

O NMC de pequeno ou médio tamanho deve ser examinado pelos familiares após serem educados para detectar o melanoma.

Já os tumores, mais difíceis de serem acompanhados, como os localizados no couro cabeludo, devem ser removidos.

Além disso, deve-se realizar frequentemente exames com um dermatologista. Esse hábito é ainda mais importante após a adolescência, quando aumenta a probabilidade de haver a transformação em melanoma.

Em relação à remoção, o NMC gigante é difícil de ser removido completamente, não apenas pelo tamanho, mas também por envolver a profundidade da pele e o sistema nervoso central.

Nessa situação, pode ser realizado remoções parciais, com a ajuda prévia de aparelhos para expandir a pele.

Quando a remoção cirúrgica não é possível, pode-se utilizar outras técnicas, como a curetagem, dermoabrasão e laser ablativo.

Durante o período neonatal, existe menor risco de cicatriz deformante e é provável a remoção total do sinal escuro, dado que as células do tumor ainda estão na camada mais superficial.

Por isso, pode ser utilizado a curetagem, porém, provavelmente, restará ainda células na profundidade do tumor que obriga o exame periódico para detectar recidiva ou o desenvolvimento do melanoma.

Ainda ficou com alguma dúvida sobre as pintas na pele? Então, entre em contato conosco e agende uma consulta para avaliação.







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