Hidradenite supurativa: saiba mais sobre essa doença que causa nódulos dolorosos

Dr. Sergio Paulo

A hidradenite supurativa (HS) é uma doença da pele que se manifesta como inflamação que tende a se perpetuar.

Nela, surgem nódulos (caroços) muito dolorosos nas axilas, virilhas, ao redor do anus e mamas. Na grande maioria dos casos, a aparição se dá em um local rico em glândula apócrina, um tipo de glândula sudorípara.

Embora o nome sugira associação com infecção bacteriana, não existe relação com esse problema.

Quer saber sobre? Então continue lendo e confira.

Incidência da hidradenite supurativa

Essa condição, também chamada acne inversa, atinge de 1% até 4% da população. As mulheres são duas vezes mais afetadas do que os homens. 

A doença surge a partir da segunda ou terceira décadas da vida, podendo ocorrer entre 11 e 50 anos. 

Apesar de a faixa etária ser ampla, geralmente , manifesta-se entre 18 e 27 anos. 

Atinge, raramente, crianças menores de 11 anos (menos de 2%). Além de raro antes da puberdade, é muito infrequente na menopausa. 

Ocorre, principalmente, na população negra.

Qual é a causa dessa doença?

Ainda não se sabe totalmente qual é a causa da hidradenite supurativa.

Porém, como na acne, decorre da oclusão do orifício do pelo e consequente acúmulo do sebo.

Esse acúmulo atinge seu máximo até que ocorre a ruptura da parede, gerando extravasamento do material. Essa ruptura do folículo piloso é influenciada diretamente pelos hormônios.

A presença de sebo no tecido ao redor estimula o sistema imunológico e gera a inflamação.

Além disso, existe uma predisposição a reagir a esses incentivos exageradamente, em decorrência de um defeito inato. 

Fatores envolvidos na hidradenite supurativa

Confira alguns fatores relacionados.

Predisposição hereditária

Cerca de 40% dos casos de hidradenite supurativa ocorrem em pacientes que têm algum parente com essa mesma doença, o que reforça a predisposição hereditária.

Esse risco é ainda maior quando acomete pessoas jovens, antes dos 13 anos.

Traumatismos

O trauma mecânico da pressão e da fricção nas dobras e em outros locais exercidos por cinto, sutiã e demais, contribuem para a ruptura do folículo piloso.

Obesidade

Assim como na acne, a elevação do hormônio andrógeno no obeso gera obstrução do folículo piloso, responsável pelo início da doença.

Desse modo, a área de atrito nas dobras também contribui para a sua instalação pela retenção de suor, o que irrita a pele e agrava a obstrução do pelo.

A produção de substâncias inflamatórias pelo tecido adiposo no obeso, para todo organismo, como as citocinas pró-inflamatórias, também agem agravando a situação.

Tabagismo

A nicotina e outras substâncias do cigarro influenciam na obstrução e inflamação do pelo.

Hormônios sexuais

Vários fatores reforçam a teoria da influência hormonal na hidradenite supurativa, como:

  • raridade da doença antes da puberdade
  • agravamento no período pré-menstrual
  • melhora durante a gravidez
  • efeito positivo do tratamento que diminui o efeito do hormônio andrógeno.

Infecção bacteriana

É discutível o papel das bactérias, havendo uma tendência a considerar como um fenômeno secundário à atuação da obstrução do pelo ou, ainda, um agravante ou motivo de permanência da doença .

Medicamentos

Anticonceptivos orais contendo progestágeno andrógeno, acetato de medroxiprogesterona e levonorgestrel podem induzir a HS.

Como a hidradenite supurativa se manifesta?

Inicialmente, a doença ocorre lentamente, com o aparecimento de prurido (coceira), eritema (vermelhidão) e excesso de sudorese. Posteriormente, as lesões tornam-se dolorosas.

Os locais mais afetados são os ricos em pelo e glândula apócrina, como as dobras naturais e a pele ao redor. A região mais afetada é a axila, também pode acometer:

Além disso, também pode acometer:

  • virilha
  • abaixo das mamas
  • mama
  • face interna das coxas
  • períneo
  • ao redor dos anus
  • nádegas
  • púbis
  • bolsa escrotal
  • vulva.

Menos frequentemente, atinge o tronco, couro cabeludo e região retroauricular (atrás da orelha).

Os locais sujeitos a atrito, como os relacionados ao cinto e ao sutiã, estão mais propensos a desenvolverem a doença.

A extensão e a gravidade da enfermidade são muito variáveis. Podemos observar casos com lesões discretas em apenas um local ou com o acometimento em mais de uma região e com grande gravidade.

No início temos os comedões (cravos) abertos, identificados por pontos enegrecidos, consequência da obstrução do pelo, como acontece na acne. Observe as fotos abaixo (1a e 1b) para compreender os primeiros sinais da hidradenite supurativa.


Foto 1a: Hidradenite supurativa, estágio inicial

Foto 1b: Hidradenite supurativa com comedão (cravo) na axila, foto de aproximação

Em seguida, surgem as lesões inflamatórias representadas por pápulas e os nódulos, de aspecto avermelhado e dolorosos, semelhante ao furúnculo, como pode ser visto abaixo (fotos 2 e 3).


Foto 2: Hidradenite supurativa com pápulas (carocinhos) na axila

Foto 3: Hidradenite supurativa com nódulo na axila

Não tratado, evolui para o abscesso e este, para o amolecimento e fistulização, ou seja, surgimento de orifício por onde são eliminados pus e sangue.

Os nódulos são substituídos por cicatrizes atróficas (em um nível inferior ao da pele normal) ou elevadas e exageradas (hipertróficas), como um queloide (foto 4).


Foto 4: Hidradenite supurativa com cicatrizes evoluindo para queloide

Essas cicatrizes queloideanas comprimem os vasos linfáticos e geram dificuldade de drenagem. Em consequência disso, surge linfedema, ou seja, inchaço nos braços, púbis, vulva, pênis e bolsa escrotal. 

O péssimo aspecto estético, o mau odor, resultante da eliminação de pus e sangue, acaba gerando isolamento social, depressão, desemprego e até suicídio.

Quanto mais precoce o início, maior a probabilidade de evoluir para os estágios mais avançados.

Doenças associadas com a hidradenite supurativa

Além das manifestações na pele, ela está associada à síndrome metabólica e suas consequências para a saúde, como:

  • diabetes
  • obesidade
  • dislipidemia (alterações da gordura no sangue)
  • hipertensão arterial
  • infarto do miocárdio
  • acidente vascular cerebral.

Esses pacientes também são mais propensos a serem portadores de problemas inflamatórios intestinais, como doença de Crohn e colite ulcerativa.

A HS também está relacionada com outros problemas, como:

  • Obstrução folicular, que gera acne , geralmente grave, cistos pilonidal e foliculite dissecante do couro cabeludo.
  • Síndrome composta por artrite piogênica, pioderma gangrenoso, acne e hidradenite supurativa
  • Doença de Behçet, que causa a inflamação dos vasos sanguíneos
  • Psoríase, doença que ocorre quando o sistema imune ataca as células da pele
  • Carcinoma espinocelular, um tipo de câncer
  • Anemia, caracterizada por baixos índices de ferro no sangue.

Existe uma tendência a reaparecer e tornar-se crônica. Daí a importância do tratamento ser instituído precocemente, para evitar que se perpetue.

Tratamento da hidradenite supurativa

Para evitar o agravamento da doença, o paciente deve saber mais sobre ela. O primeiro passo é compreender que essa enfermidade não é contagiosa nem decorrente de má higiene.

Se quiser tirar dúvidas e saber quais são fontes confiáveis para se informar, é importante realizar consultas periódicas com um dermatologista, que poderá indicar materiais de fontes confiáveis, como a Hidradenitis Supurativa Foundation.

Quando o objetivo é cuidar das lesões, recomenda-se:

  • higienizar o local diariamente, com sabões antissépticos
  • aplicar substâncias que evitem o suor
  • evitar ambientes quentes e úmidos
  • ficar no peso ideal
  • diminuir o estresse, de preferência com acompanhamento psicológico
  • usar roupas folgadas e de tecido de algodão
  • praticar exercício físico
  • realizar dieta para emagrecer
  • evitar tabagismo.

Utilizar vaselina branca antes de os curativos serem aplicados, também pode auxiliar. Esse método evita que os esparadrapos fiquem presos e, consequentemente, gerem traumatismo.

A aplicação de compressas mornas, contendo solução de Burrow e cloreto de alumínio, possui a função de secar as secreções de pus, sangue e suor. Também deve ser aplicado produtos para limpar a pele, o que deve ser prescrito por um dermatologista.

Medicamentos

Existem, ainda, remédios que podem ser utilizados para controlar a hidradenite supurativa e os seus sintomas. Os anti-inflamatórios não hormonais combatem, além da inflamação, também a dor.

Além disso, pode ser utilizado antibióticos para controlar a enfermidade. Já quando há lesões mais profundas, é recomendado tetraciclina e seus derivados, como doxiciclina, minociclina e limeciclina.

Caso ocorra a falha no tratamento com esses antibióticos, uma opção é utilizar uma combinação de fármacos.

Nos casos muito graves, sem resposta aos outros medicamentos, recorre-se ao uso do ertapenem por via intravenosa. 

Se houver suspeita de infecção secundária pela bactéria estafilococo, deve ser utilizado, preferencialmente, a cefalexina, orientado pela cultura e antibiograma.

Para auxiliar na desobstrução do folículo piloso, o dermatologista pode recomendar derivados da vitamina A, como a isotretinoína, acitretina e, recentemente, a alitretinoína.

Os corticosteróides, por via oral ou intralesional, podem ter efeito anti-inflamatório, porém não devem ser utilizados prolongadamente pelos seus graves efeitos colaterais.

Ainda há outros que podem ser utilizados, como:

  • dapsona, para combater a inflamação
  • acetato de ciproterona e etinilestradiol, como pílula anticoncepcional para mulheres
  • associação de remédios, com efeito antiandrógeno
  • metformina, especialmente para idosos.

Mais recentemente, os medicamentos biológicos, como o infliximab, ustekinumab, anakinra e adalimumabe são reservados para os casos graves e resistentes a outras substâncias. 

Vale ressaltar que nenhum desses deve ser consumido sem a devida prescrição médica. A automedicação pode causar piora no quadro.

Cirurgias

Quando o tratamento clínico não cura a hidradenite supurativa, há a opção de realizar a cirurgia.

Em estágio inicial, pode ser utilizado drenagem de abscessos, eletrocoagulação e curetagem.

Cirurgia é a opção com maior chance de cura. Sua efetividade depende de ser realizada no estágio inicial e da lesão ser removida totalmente, considerando a profundidade da pele e com margens de 2 cm.

A remoção cirúrgica com laser de CO₂ é eficaz, especialmente nos casos próximo ao anus a fim de preservar seu esfíncter.

Já a criocirurgia, utilizando o nitrogênio líquido e a consequente cicatrização por segunda intenção, apesar de muito doloroso, pode ser eficaz.

Se você sofre de hidradenite supurativa, entre em contato conosco para agendar uma consulta e ter o tratamento ideal traçado para o seu caso.