Doença mão-pé-boca: descubra como identificar e tratar

Dr. Sergio Paulo

A doença mão-pé-boca é provocada pelos vírus enterovírus e coxsakievírus, transmitidos através da ingestão de fezes ou pela fala. 

Manifesta-se na pele através de erupção maculopapular (manchas avermelhadas associadas a carocinhos) ou pápulas (carocinhos) associadas a vesículas (bolhinhas d’água) nas mãos e nos pés, além de feridas (ulcerações) na boca 

Nesse artigo, descreveremos a transmissão, as manifestações clínicas, as complicações, além do tratamento da doença. 

A doença mão-pé-boca é frequente?

É uma doença comum na infância, principalmente em menores de 5 anos de idade. Isso é devido à ainda imaturidade do sistema imunológico e a tendencia ao agrupamento das crianças e consequente maior chance de transmissão da doença. 

Em países de clima tropical, a doença acontece durante todo o ano, ao contrário dos de clima frio, onde é mais frequente no inverno. 

Pediatras e outros profissionais de saúde, que trabalham com crianças, são mais propensos a adquirir a enfermidade. 

Não há diferença de incidência entre os gêneros. 

Qual a causa da doença mão-pé-boca?

É causado pelos enterovírus, classificados em 4 grupos: A, B, C e D, existindo mais de100 subtipos. 

No passado, o EVA71 e AVC16 foram os mais frequentes. Atualmente, outros subtipos têm sido identificados, como o AVC6 e o AVC10.  

Como a doença mão-pé-boca é transmitida?

O ser humano é o único portador do vírus. 

A transmissão ocorre através do contato oral com fezes contaminadas (o vírus pode permanecer viável nas fezes entre 4 e 8 semanas). É, portanto, mais fácil a transmissão em locais onde a população não tem acesso à água potável.  

Outra maneira de transmissão é através das vias respiratórias (por gotículas de saliva no ar). 

O período de incubação é de 3 a 6 dias. 

O contágio é mais intenso na primeira semana da doença, após o início dos sintomas. 

Os portadores da infecção ainda sem sintomas (assintomáticos), dificultam a prevenção da doença, que deve ser realizado através do isolamento das pessoas susceptíveis de adquiri-la  

Fatores que contribuem para a transmissão da doença mão-pé-boca:
  • Altas e baixas temperaturas, além da alta umidade ambiental 
  • Poluição ambiental 
  • Alta velocidade do ar 
  • Diminuição da camada de ozônio 
  • Alta densidade populacional nas grandes cidades 
  • Baixo nível educacional da população, que gera menor cuidado na transmissão da doença (hábito de lavar as mãos) e de poder aquisitivo, gerando maior facilidade de contágio por ser obrigada a viver em casas de pequeno tamanho, abrigando grande número de pessoas.  
  • Reuniões prolongadas das crianças em creches e escolas 
Fatores que contribuem para evitar a gravidade da doença mão-pé-boca:
  • Médicos qualificados para tratar precocemente a doença 
  • Hospitais com alta qualidade de equipamentos 
  • População educada o suficiente para procurar o médico logo no início da doença 
  • O aleitamento materno fortalece a imunidade da criança. 

Como se manifesta a doença mão-pé-boca?

As lesões cutâneas, acompanhadas, na maioria dos casos, por febre de baixa intensidade, se caracterizam por erupção tipo manchas avermelhadas que podem evoluir para pápulas (carocinhos) (foto 1) ou estas associadas a vesículas (bolhinhas d’água), porém mantendo as citadas manchas na periferia das lesões (fotos 2 e 3).

Localizam-se no dorso das mãos e dos pés, palmas e plantas, além do rosto (foto 4) e nádegas. 

Fotos 1: doença mão-pé -boca, caracterizada por pápulas (carocinhos) avermelhados e vesículas nas mãos e nos punhos.  
Fotos 2: doença mão-pé-boca no pé, onde se observa vesículas e pústulas cercadas por lesões avermelhadas (eritematosas), no dorso do pé e se estendendo ao início das pernas. 
Foto 3: doença mão-pé-boca próximo ao cotovelo, caracterizado por pústulas (bolhinhas com pus), algumas com crosta de sangue no centro, além de halo avermelhado.  
Foto 4: manchas avermelhadas no nariz, além de vesículas e pústulas ao redor da boca.

Também pode surgir ulcerações (feridas) dolorosas na boca e, afetando tipicamente sua porção posterior (palato mole) e, menos frequentemente, a língua e outras partes da boca. 

A dor, correspondente às feridas na boca, pode ocasionar desidratação, decorrente da recusa em ingerir líquido. 

As lesões desaparecem entre 7 e 10 dias, sem deixar cicatrizes. 

Em fase posterior, entre 1 e 2 meses após a infecção e durando 1 a 8 semanas, pode surgir descolamento das unhas do leito ungueal das mãos e dos pés e eliminação delas, além depressões horizontais na superfície delas. 

Quais as complicações da doença mão-pé-boca?

Apesar de raras, as crianças, especialmente as de menos de 5 anos de idade, podem manifestar as seguintes sequelas neurológicas: 

  • Meningite asséptica (sem infecção) 
  • Paralisia do nervo facial 
  • Fraqueza e atrofia dos membros  
  • Disfagia (dificuldade em engolir alimentos) 
  • Convulsão 
  • Déficit de atenção e hiperatividade 
  • Comprometimento das habilidades da fala e da linguagem 
  • Deficiência visual em apenas um olho 

Como a doença mão-pé-boca é prevenida e tratada?

A prevenção é realizada através da lavagem das mãos e desinfecção de fômites (vestuário, escova de cabelo, celular, corrimão).

A China desenvolveu uma vacina eficaz contra apenas o subtipo EV-A71, resultando em grande diminuição da incidência da doença, com taxa de imunização de 97,4% da população.  

Infelizmente, a vacina não resulta em proteção contra os outros subtipos do vírus. 

Ainda não existe unanimidade em relação ao uso dos medicamentos antivirais. Portanto, ainda não são utilizados como rotina. 

O tratamento é dirigido ao combate da febre, da dor e da manutenção da hidratação. 

A imunoglobulina intravenosa pode diminuir o tempo de duração da febre e das lesões na pele. É também indicada   nos casos graves da doença. 

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