Alopecia Frontal Fibrosante: O que é e como impacta a vida das pessoas  

Dr. Sergio Paulo

A alopecia frontal fibrosante é uma forma de queda de cabelo que causa grande impacto psicossocial, especialmente em mulheres na menopausa. Caracterizada por inflamação e atrofia do couro cabeludo, ela provoca a perda de fios a partir da linha frontal (testa), progredindo gradualmente para a região posterior. A área afetada muitas vezes apresenta atrofia esbranquiçada na pele, próxima ao limite de implantação dos cabelos.  

Neste artigo, exploraremos as causas da alopecia frontal fibrosante, suas manifestações dermatológicas e as opções de tratamento disponíveis. 

Causas da Alopecia Frontal Fibrosante: O que Sabemos? 

A alopecia frontal fibrosante é uma condição complexa, e suas causas ainda não são totalmente compreendidas. Considerada um subtipo de líquen plano, essa forma de queda de cabelo parece resultar de uma combinação de fatores genéticos, hormonais e ambientais. Abaixo, detalhamos os principais aspectos relacionados às suas causas: 

1. Predisposição Genética 

A hereditariedade desempenha um papel importante, já que a alopecia frontal fibrosante frequentemente afeta múltiplos membros da mesma família. Essa predisposição genética sugere que certos indivíduos são mais suscetíveis à doença. 

2. Influência Hormonal 

A condição é significativamente mais comum em mulheres, especialmente na menopausa, o que aponta para uma forte influência hormonal. Entre outros fatores hormonais associados, destacam-se: 

  • Menopausa precoce ou redução dos níveis de estrógenos e andrógenos. 
  • Benefícios observados com a reposição hormonal. 
  • Resposta positiva ao tratamento com medicamentos antiandrógenos, como inibidores da 5-alfa-redutase. 
3. Fatores Ambientais 

O aumento da incidência da alopecia frontal fibrosante em diversos países, especialmente após 1994, sugere a influência de fatores ambientais em pessoas geneticamente predispostas.  

Entre os possíveis gatilhos, estão: 

  • Alergia manifestada por dermatite de contato: produtos cosméticos, como fragrâncias e conservantes, além de filtros solares, são suspeitos de desencadear ou agravar a enfermidade. 
  • Hábito de fumar: Estudos investigam sua possível relação com o desenvolvimento da doença. 

Embora a interação exata entre esses fatores ainda esteja sob investigação, a combinação de predisposição genética, alterações hormonais e exposição a gatilhos ambientais parece ser a chave para o surgimento da alopecia frontal fibrosante

Como se Manifesta a Alopecia Frontal Fibrosante? 

1. Queda de cabelo no couro cabeludo 

A alopecia frontal fibrosante é uma condição caracterizada pela queda de cabelo progressiva, que começa na linha de implantação do couro cabeludo, afetando principalmente a região frontal e lateral, em forma de faixa (foto 1).  

Essa perda de cabelo ocorre de forma lenta, com um retrocesso médio de 1,05 cm por ano, muitas vezes tão gradual que os pacientes demoram a perceber.  

A seguir, detalhamos as principais manifestações da doença: 

  • Região frontal: A queda é iniciada na linha frontal (testa), aumentando a área sem cabelo e criando uma testa mais ampla.  
  • Padrões de queda
    • Regular: Retrocesso homogêneo. 
    • Irregular: Perda maior em algumas áreas do que em outras.  
    • Pseudofranja: Preservação de uma faixa fina de cabelos na borda anterior. 
  • Outras áreas: Menos comumente, a região occipital (acima da nuca) ou outras partes do couro cabeludo podem ser afetadas.  
  • Sinais inflamatórios: Vermelhidão (eritema) e descamação ao redor dos folículos pilosos visíveis com o dermatoscópio, indicam atividade inflamatória.  
  • Perda folicular: A ausência de óstios foliculares na área afetada caracteriza uma alopecia cicatricial (permanente).  
  • Fios residuais: É comum observar um ou poucos fios isolados na área de alopecia. 
2. Perda de Pelos em Outras Regiões 
  • Sobrancelhas: A queda pode ser parcial ou total, começando pela parte lateral e frequentemente precedendo a perda de cabelo no couro cabeludo (foto 1).  
  • Cílios: Afetados com menor frequência.  
  • Outras áreas: Pelos do corpo, como axilas, região pubiana, braços e pernas, também podem ser comprometidos.  
  • Pelos vellus: A perda preferencial de pelos finos (vellus) na borda frontal do couro cabeludo ajuda a diferenciar essa condição de outras alopecias. 

Foto 1: Alopecia frontal fibrosante, onde se observa intensa queda de cabelo correspondente ao limite de implantação do couro cabeludo e gerando aumento da testa. Também existe perda das sobrancelhas, frequentemente precedendo a alopecia.

3. Sintomas Associados 

Pacientes podem relatar:  

  • Esses sintomas indicam a fase ativa da doença. 
4. Alterações Cutâneas 

Além da queda de cabelo, a alopecia frontal fibrosante apresenta alterações na pele que podem preceder a perda de fios de cabelo, sendo, portanto, fundamentais para o diagnóstico precoce. 

Reconhecer essas manifestações pode antecipar o tratamento e ajudar a prevenir a progressão da alopecia, que é irreversível. 

  • Manchas escuras: Semelhantes ao melasma (foto 2), variam entre tons de marrom, cinza, preto ou azul.  

Localiza-se mais comumente no rosto, mas também no pescoço, colo e membros superiores, ou seja, com preferência por áreas expostas ao sol.  

 Essas manchas estão associadas à variedade pigmentosa do líquen plano

Foto 2: Manchas escuras no rosto, manifestação associada à queda de cabelo da alopecia frontal fibrosante. 

  • Atrofia da pele 
      • Características: A pele na região frontal, logo abaixo da linha de implantação do couro cabeludo, torna-se fina, lisa e mais clara que o normal, com vasos sanguíneos dilatados (telangiectasias) visíveis  
      • Localização: Comumente na testa, próximo à linha de implantação do cabelo (foto 1).  
    • Pápulas faciais 
      • Descrição: Pequenos caroços (pápulas) relacionados aos folículos pilosos, com superfície lisa, bordas pouco definidas e cor da pele normal. Podem apresentar delicadas espículas foliculares, semelhantes à ceratose pilar (foto 3).  
      • Localização: Mais frequentes nas regiões temporais (próximo às orelhas), mas podem aparecer na testa, maçãs do rosto ou queixo.  
      • Significado: Associadas a maior gravidade da doença.  
      • Tratamento: Uso de isotretinoína oral, medicamento também indicado para acne.  

    Foto 3: Pápulas (carocinhos) na região frontal (testa) da face, frequentemente associadas à queda de cabelo da alopecia frontal fibrosante. 

    • Rugas e Eritema 
      • Rugas: Surgem na região preauricular (próximo às orelhas), sendo menos comuns.  
      • Vermelhidão (eritema): Extensa na face, semelhante à rosácea (fotos 3 e 4), mas ocorre com menor frequência.  

    Fotos 4 e 5: Telangiectasias (vasos sanguíneos dilatados) associado a eritema (vermelhidão), simulando a rosácea. 

    As alterações cutâneas podem aparecer antes da queda de cabelo, permitindo a identificação precoce da alopecia frontal fibrosante. 

     Como confirmar o diagnóstico de Alopecia Frontal Fibrosante?
    • Dermatoscopia: Exame que avalia sinais inflamatórios e perda folicular.  
    • Biópsia de pele: Exame histopatológico para confirmar a condição. 

    Como Tratar a Alopecia Frontal Fibrosante? 

    O tratamento da alopecia frontal fibrosante deve começar o mais cedo possível, pois a perda de cabelo é irreversível, devido à natureza cicatricial da doença.  

    As opções terapêuticas incluem medicamentos tópicos, orais e, em alguns casos, procedimentos como transplante capilar.  

    A escolha do tratamento depende da gravidade, extensão da doença e resposta do paciente. Abaixo, detalhamos as principais abordagens: 

    1. Tratamentos Tópicos 
    • Corticoides
    • Creme: Reduz a inflamação no couro cabeludo. 
    • Intralesional: Injeções aplicadas a cada 8 semanas para maior eficácia. 
    • Minoxidil 5% (solução ou espuma): Auxilia no tratamento simultâneo da alopecia androgenética, estimulando o crescimento capilar. 
    • Tacrolimo e pimecrolimo: Usados no início ou como alternativa aos corticoides, minimizando a atrofia da pele  
    2. Tratamentos Orais 
    • Inibidores da 5-alfa-redutase (finasterida, dutasterida): Atuam na regulação hormonal, com benefícios em mulheres na menopausa. 
    • Hidroxicloroquina: Possui ação anti-inflamatória. 
    • Antibióticos anti-inflamatórios (tetraciclina, doxiciclina, minociclina): Reduzem a inflamação. 
    • Retinoides orais (isotretinoína, acitretina): Eficazes para tratar as pápulas faciais e controle da doença. 
    • Imunossupressores (metotrexato, micofenolato de mofetil): Indicados em casos graves. 
    • Outros medicamentos: Pioglitazona, naltrexona e tofacitinibe podem ser considerados em situações específicas. 
    3. Procedimentos 
    • Excimer laser e laser de CO2 
    • Transplante capilar: Viável apenas após o controle da doença, com manutenção do tratamento clínico para evitar reativação. O procedimento tem eficácia limitada devido ao risco de recidiva. 
    Qual a Importância do Diagnóstico Precoce 

    Iniciar o tratamento logo no início pode estabilizar a progressão da doença e preservar os folículos remanescentes.  

    Um dermatologista pode avaliar a necessidade de dermatoscopia ou biópsia para confirmar o diagnóstico e personalizar o tratamento. 

    Prognóstico da Alopecia Frontal Fibrosante 

    A alopecia frontal fibrosante geralmente apresenta uma fase ativa de cerca de 5 anos, após a qual, a progressão pode estabilizar. No entanto, a recuperação dos pelos nas áreas afetadas é rara, com relatos ocasionais de recuperação parcial.  

    Fatores associados a um pior prognóstico incluem: 

    • Perda de pelos nas sobrancelhas e cílios. 
    • Presença de pápulas faciais, indicando maior gravidade. 

    Embora a doença seja crônica e a perda de cabelo permanente, o tratamento adequado pode controlar a inflamação, prevenir maior progressão e melhorar a qualidade de vida. 

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