Dermatologia Comunitária: uma nova solução para combater a hanseníase 

Dr. Sergio Paulo

O Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em número de casos de hanseníase e concentra 92% de todos os casos do continente americano.  

Pernambuco está entre os estados com maior incidência em crianças e adolescentes, enquanto Recife é a quarta capital com mais casos. Esses dados alarmantes reforçam a necessidade de iniciativas inovadoras no combate à hanseníase. 

O papel da Dermatologia Comunitária 

A falta de conhecimento sobre a hanseníase, tanto por parte da população quanto das equipes de saúde, é o maior desafio no controle da doença.  

No passado, o tratamento era realizado exclusivamente por dermatologistas, mas foi descentralizado e passou a ser atribuído ao médico da Atenção Primária, como principal responsável pelo tratamento da hanseníase. 

No entanto, a qualidade do atendimento oferecido por esses profissionais ainda é inferior ao dos especialistas, o que compromete o diagnóstico precoce, reconhecido pelo surgimento de mancha esbranquiçada e perda da sensação do frio e do calor (foto 1) fundamental na prevenção das sequelas e da transmissão da infecção, esta última, fundamental para o controle da doença. 

Foto 1: Hanseníase Indeterminada em uma criança, manifestada pelo aparecimento de mancha esbranquiçada (hipocrômica) com perda dos pelos.

Países como Argentina, República Dominicana e México já adotaram a Dermatologia Comunitária, uma subespecialidade que tem gerado excelentes resultados no combate à doença. Essa abordagem envolve: 

Treinamento prático e teórico

Dermatologistas e médicos residentes da especialidade treinam médicos da Atenção Primária, diretamente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), tanto durante as consultas quanto em aulas específicas sobre a hanseníase

Após esse treinamento, a qualificação dos médicos continuará, através da telemedicina, com envio de casos clínicos, incluindo fotos e história clínica, e com respostas pelos dermatologistas e residentes de dermatologia.  

Treinar demais membros das equipes de saúde, especialmente os agentes comunitários de saúde e enfermeiros, principais responsáveis pela busca ativa da doença, sendo esta considerada precária no Brasil pela ONU.  

Educação comunitária

Além do treinamento médico e demais membros das equipes de saúde, a Dermatologia Comunitária promove palestras em vários ambientes das comunidades como nas escolas e nas próprias UBS, a fim de educar a população sobre a hanseníase e outras doenças de pele. 

Benefícios além da hanseníase 

Embora a hanseníase seja o foco inicial, a implementação da Dermatologia Comunitária beneficia pacientes com outras doenças dermatológicas, que representam cerca de 20% das consultas nas UBS. 

Um caminho para o Brasil 

Apesar do sucesso em outros países, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) ainda não implantou a Dermatologia Comunitária como uma subespecialidade. Esse atraso impacta negativamente a formação de médicos na especialidade da Dermatologia, especialmente após a reforma do ensino médico, que assim como na hanseníase, descentralizou essa atividade, tornando obrigatórios os estágios dos alunos na Atenção Primária. 

O envolvimento da SBD é fundamental para: 

  • Criar programas de treinamento específicos para médicos da Atenção Primária. 
  • Incorporar a Dermatologia Comunitária no programa da residência médica de Dermatologia. 
  • Criar o departamento de Dermatologia Comunitária na SBD a fim de gerar estratégias de combate efetivo à hanseníase.  
  • Aumentar a conscientização da população sobre a hanseníase e outras doenças dermatológicas no Brasil, gerando, em consequência, envolvimento dela no combate efetivo à doença.  

Sem uma mudança estratégica de apoiar as Equipes de Saúde que atuam, principalmente, nas comunidades pobres, as mais afetadas pela doença,  tanto pelo Ministério da Saúde, pelas Secretarias de Saúde (municipais e estaduais) e, especialmente, pela SBD, o Brasil continuará ocupando essa vergonhosa posição de destaque na incidência da hanseníase. 

É hora de investir na Dermatologia Comunitária como um caminho para transformar essa realidade e a nossa ONG, o Instituto ProntoPele, tem o compromisso de transformar o Janeiro Roxo, mês dedicado ao combate à hanseníase, em todo Ano Roxo. 

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