Foliculite queloideana da nuca 

Dr. Sergio Paulo

A foliculite queloideana da nuca, impropriamente também conhecida como acne queloideana da nuca, é uma doença rara da pele, resultante da inflamação e cicatriz do pelo, localizada, geralmente, na parte posterior da cabeça e na nuca. 

Essa inflamação do cabelo pode determinar perda definitiva dele, em consequência do surgimento de cicatriz.  

 Surgem carocinhos (pápulas), semelhante ao queloide, pústulas (bolhinhas de pus) e destruição definitiva do pelo em consequência da formação de queloide. 

Afeta mais o sexo masculino e pessoas de pele escura, cursando com coceira e dor, além do aspecto muito antiestético. 

Nesse artigo, vamos lhe informar sobre a frequência, etiologia, manifestações clínicas, outras doenças associadas e o tratamento. 

A foliculite queloideana da nuca é frequente?  

Essa inflamação do cabelo é 20 vezes mais frequente nos homens.  

A incidência é muito maior na raça negra, entre 0,5 e 13,6% dos membros dessa população.   

É a forma clínica mais frequente de alopecia cicatricial em homens negros. 

Decorre de o fio do cabelo ser enrolado (crespo).  

A incidência começa a se elevar após a adolescência e, raramente, acontece após os 50 anos de idade. 

Qual a causa da foliculite queloideana da nuca? 

Não é bem conhecido o que gera essa inflamação do pelo. 

Fatores que predispõem à foliculite queloideana da nuca:  
  • Predisposição genética pelo fato de as pessoas da raça negra serem muito mais susceptíveis. 
  • O traumatismo na pele contribuí para o início da foliculite por facilitar a penetração na pele do pelo tipo encaracolado, através de: 
  • Corte do cabelo muito curto e frequente.  
  • Fricção do colarinho da camisa, do capacete e do chapéu apertado  
  • Cutucar, esfregar e arranhar a pele. 
  • O calor e a umidade no ambiente 
  • Herpes zoster
  • Uma reação imunológica exacerbada à presença de micro-organismos que habitam a pele normal, como os microrganismos dermodex, fungos e bactérias, pode contribuir para desencadear a inflamação do fio de cabelo. 
  • Autoimunidade: perda da capacidade do sistema imunológico de reconhecer o fio de cabelo como pertencente ao próprio indivíduo.  
  • Excesso do hormônio testosterona 
  • Seborreia denunciada pelo cabelo muito oleoso 
  • Obesidade predispõe aos casos mais graves 
  • Alguns medicamentos como ciclosporina, tacrolimo, carbamazepina e difenilhidantoína. 

Como a foliclite queloideana da nuca se manifesta? 

Afeta predominantemente o local mais inferior da parte posterior do couro cabeludo (região occipital), menos frequentemente a nuca e, raramente, outras áreas do couro cabeludo. 

Inicialmente, surgem pápulas (carocinhos) avermelhadas e eritema (mancha avermelhada). A pápula pode sofrer infecção bacteriana, transformando-se em pústulas (bolinhas de pus), conhecida como foliculite e abscessos, especialmente quando continua havendo traumatismo no local.

Pode surgir escoriações (arranhões) decorrentes do ato de coçar a pele, além de crostas, e estas, resultantes do ressecamento de pus e de sangue. 

À medida que os surtos vão se repetindo, a inflamação do folículo vai se tornando mais intensa, evidenciado por placas de abscessos, que drenam pus através de fístulas. 

Nos surtos seguintes, a inflamação vai se transformando em pápulas (carocinhos) de queloide (foto 2), que tendem a confluir e formar placas, indistinguíveis do queloide, podendo atingir grandes dimensões, de aspecto muito antiestético (foto 3). 

A destruição definitiva dos pelos, após surtos de inflamação dos fios capilares, é acompanhada por cicatriz (foto 4).

Sobre as cicatrizes, já com destruição definitiva dos folículos pilosos, pode emergir vários pelos agrupados, a partir de um único orifício de pelo, conhecido como politríquia (foto 5).

Os pacientes podem ou não referir sensação de coceira (prurido), queimor e dor, especialmente quando associado à pústula. 

É uma doença com evolução longa (crônica), cursando com episódios de inflamação e tendencia a cicatrizes definitivas e, consequente, alopecia irreversível. 

Não existe predisposição em desenvolver queloide em outras partes do corpo.

A foliculite queloideana da nuca pode estar associada a outras doenças? 

Essa inflamação do cabelo pode se associar à síndrome metabólica em 37% dos pacientes, causa mais frequente de morte em todo o mundo, gerada pelo deposito de gordura nos vasos sanguíneos e que, frequentemente, gera infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (derrame). 

Faz parte da síndrome metabólica:  
  • Obesidade (21%)
  • Diabetes mellitus tipo 2 (11,6%)
  • Hipertensão arterial (14%)  
  • Aumento dos lipídeos (gorduras) colesterol e triglicerídeo no sangue. Essas alterações são mais frequentes quanto mais severo for a gravidade da foliculite queloideana da nuca. 

Pode ocorrer transmissão de microrganismos, como o vírus da AIDS, através do sangue do local e consequente contaminação do aparelho de cortar o cabelo, já que as lesões sangram facilmente com mínimo traumatismo e o barbeiro, geralmente, não esteriliza o objeto antes de reutilizá-lo. 

Também pode se associar às seguintes doenças da pele:  

Foliculite queloideana da nuca: é necessário algum exame complementar para o diagnóstico?  

 O diagnóstico dessa inflamação do pelo é baseado apenas nas manifestações clínicas.  

Quando existe suspeita de infecção bacteriana associada à foliculite, pode ser realizada cultura bacteriológica  combinada com antibiograma, para escolher o melhor antibiótico. 

Como tratar a foliculite queloideana da nuca? 

Evitar os fatores que exacerbam a doença, citados anteriormente. 

Os casos leves, onde existe apenas as lesões ainda com pouca inflamação, aplicar cremes com capacidade anti-inflamatória (corticosteroides) ou com antibióticos e até a combinação das duas substâncias no mesmo creme. 

Quando a inflamação da pele é muito intensa, se impõe a ingestão de antibióticos, preferencialmente os derivados da tetraciclina, os quais têm, além de atividade antibacteriana, também anti-inflamatória. 

A fototerapia, que consta da irradiação da pele com a luz ultravioleta, derivada de um aparelho (o paciente entra numa cabine,) pode ser eficaz porque essa irradiação combate a inflamação e a formação de cicatrizes 

Quando a lesão atinge grande dimensão e que não responde aos tratamentos citadas anteriormente, se recorre às seguintes medidas: 

  • Ingestão da isotretinoina (roacutan)  
  • Aplicação de laser a fim de destruir os pelos 
  • Crioterapia (aplicação de nitrogênio líquido) 
  • Remoção cirúrgica de toda lesão e sutura ou, se não conseguir aproximar as bordas e suturar, remover através de excisão ou de eletrocoagulação e deixar cicatrizar por segunda intenção.  

A recidiva, se for removido até a profundidade da lesão, atingindo a gordura, tem baixa incidência. 

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