Escabiose: tire suas dúvidas sobre a sarna

Dr. Sergio Paulo

A escabiose, também conhecida como sarna, é uma doença contagiosa, reconhecida como tal há séculos. Ela é relativamente comum e tem evolução cíclica, principalmente nos países desenvolvidos, onde o intervalo entre os ciclos é de 10 a 15 anos.

Não tem preferência por idade, raça, sexo e condição socioeconômica, apesar de haver relatos de ser comum em países pobres.

Acomete, principalmente, a América Latina e a região do Pacífico e há um total de 100 milhões de pessoas afetadas pela doença no mundo.

A escabiose é frequente em locais de grande aglomeração, como presídios e asilos. Continue lendo nosso post e confira mais informações sobre essa doença.

Qual a causa da escabiose?

O agente etiológico, Sarcoptes scabiei variedade hominis, parasita apenas a espécie humana, é o transmissor da escabiose.

Essa doença, portanto, passa apenas de homem para homem, poupando os animais.

No caso da sarna animal, ela é causada por outras espécies que parasitam esses seres. 

São espécies específicas, portanto, o parasita de cada espécie afeta apenas o mesmo tipo de animal.

Após o acasalamento, o macho morre, a fêmea penetra e se desloca na parte mais superficial da pele, a epiderme.

Durante esse percurso que dura de 4 a 6 semanas, põem de 40 a 50 ovos. Esses ovos se transformam em parasitas adultos em 5 a 6 dias.

O número de parasitas, chamados de ácaros, em cada indivíduo é de 10 a 15. Em contraste, esse número na escabiose norueguesa pode atingir milhões em consequência da doença acometer pessoas com baixa imunidade, como nos portadores de HIV.

Como ocorre a transmissão?

A transmissão da escabiose ocorre em decorrência do contato prolongado e direto de pele com pele, como ocorre entre membros de família e casais, sendo pouco provável a transmissão consequente a contato casual.

Os parasitas podem sobreviver fora do hospedeiro durante 24 a 36 horas, tempo insuficiente para a doença ser transmitida. Portanto, é pouco provável a transmissão a  partir de fômites como vestimentas, roupa de cama e outros objetos.

A exceção a isso é a contaminação acontecer em ambientes frequentados por paciente portador da sarna norueguesa, devido ao elevado número de parasitas, eliminados no local.

Manifestações clínicas da escabiose

O prurido (coceira) é a manifestação proeminente da escabiose. Ela surge 3 a 4 semanas após a contaminação, exceto em consequência de reinfecção, quando é imediato.

As lesões e o prurido (coceira) são devidos a 2 mecanismos: o primeiro, ao deslocamento da fêmea na pele e o segundo pela resposta imunológica do indivíduo à presença do parasita.

O primeiro, explica o prurido ser maior à noite e ao acordar, consequente ao deslocamento da fêmea na pele, estimulado pelo calor da cama. Esse deslocamento na pele gera uma lesão linear, serpiginosa, medindo 1 centímetro, de cor acinzentada e com uma lesão ao final do túnel, onde se encontra a fêmea

Essa “casinha” da fêmea tem um formato de pápula-vesícula (carocinho e bolhinha d’água)

Foto autorizada pelo Dr. Samuel Freire, do Atlas Dermatológico

Raramente essa lesão é vista devido à sua destruição pelo ato de escoriar (arranhar a pele) em consequência de coçar. O seu pequeno tamanho também contribui para  dificultar  sua visualização.

O segundo mecanismo, o imunológico (alérgico), gera maior número de lesões, manifestado por pápulas (carocinhos),


Escabiose no punho manifestado por pápulas (carocinhos) de cor avermelhada, localização muito frequente

Escabiose no punho manifestado por pápulas (carocinhos) de cor avermelhada, localização muito frequente

vesículas (bolhinhas d’agua) e pústulas (bolhinhas de pus), as duas últimas afetando, preferencialmente, as crianças.


Escabiose (sarna) ao redor da axila, localização frequente manifestado por pústulas (bolhinhas contendo pus) ainda íntegras

O segundo mecanismo também explica a persistência do prurido mesmo após a cura, além do reinício do prurido em um a três dias, na reinfecção.

Uma variedade da doença, menos frequente, é a forma nodular, manifestada por pápulas (carocinhos) de maior tamanho, localizadas no pênis, bolsa escrotal, umbigo e axilas.

Nos pacientes com baixa da imunidade, como acontece na AIDS e doenças autoimunes (como lúpus eritematoso), o número de parasitas é muito maior. Manifesta-se por escamas espessas, localizadas, preferencialmente, no couro cabeludo, nas mãos e nos pés. As unhas se tornam espessadas.

Escabiose (sarna) crostosa

A escabiose, geralmente, envolve vários locais da pele, sendo os mais frequentes:

  • As mamas, especialmente nas mulheres
  • Dobras anteriores e posteriores das axilas
  • Pênis e bolsa escrotal
  • Ao redor do umbigo
  • Cintura
  • Face flexora dos pulsos
  • Face lateral e entre dedos das mãos
  • Parte inferior das nádegas
  • Coxas

Nas crianças podem se localizar, caracteristicamente, nos pés, na parte posterior do tronco e na cabeça.

Como qualquer doença que curse com prurido, pode complicar com infecção bacteriana, consequente às escoriações pelo ato de arranhar a pele.

Escabiose (sarna) infectada

Tratamento da escabiose

O tratamento da escabiose pode ser realizado através de medicamentos na pele e por via oral, devendo haver o acompanhamento médico.

No primeiro, é comum haver a aplicação de permetrina, em loção, durante duas noites, em toda a pele e reaplicar após uma semana.

O tratamento por via oral deve ser feito com a ivermectina e também repetir o tratamento após uma semana. Toda família deve ser tratada, independentemente de ter coceira ou não.

Alguns médicos aconselham o uso simultâneo das duas medicações, especialmente na escabiose norueguesa, por conter maior número de parasitas.

Se houver complicação com infecção bacteriana, deve ser administrado, por via oral, antibióticos que atinjam o estafilococo, como a cefalosporina.

Agora que você sabe mais sobre a escabiose, que tal continuar a leitura e saber mais sobre a pele seca?