Vitiligo: conheça a doença do Michael Jackson

Dr. Sergio Paulo
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O vitiligo é uma doença de pele relativamente comum, manifestada por mancha acrômica (mancha branca) por perda total da cor.

Ela ocorre em consequência do acometimento dos melanócitos, as células que produzem a melanina e causa manchas com limites bem definidos. 

Afeta todas as etnias, compromete 0,5 a 2% da população mundial e não apresenta predomínio por sexo. É a mais frequente do grupo das doenças com perda do pigmento da pele.

Predomina entre 10 e 30 anos, apesar de 25% dos casos surgirem antes dos 10 anos.

O que causa o vitiligo?

A causa do vitiligo é desconhecida, mas existem várias teorias tentando explicar, sendo mais aceita a participação de vários fatores envolvidos e interligados:

Hereditariedade

Cerca de 20% dos pacientes têm algum parente de primeiro grau afetado. Existe uma coincidência de apenas 23% entre gêmeos homozigóticos (idênticos) e esse fato demonstra a importância de fatores ambientais na indução da doença.

O risco relativo de familiares de primeiro grau de desenvolverem a doença é de 7 a 10 vezes. Existe uma maior suscetibilidade ao vitiligo e melanoma determinado pela desregulação genética da vigilância imunológica que afeta ambas doenças.

Autoimunidade

Essa é uma das teorias mais aceitas.

A desregulação do sistema imunológico gera perda da capacidade dele reconhecer o que é do próprio organismo.

No caso do vitiligo, o sistema imunológico, nosso “vigia”, passa a não reconhecer o melanócito, a célula que produz a melanina, responsável pela cor da pele, e o destrói.

Essa teoria é reforçada pela associação do vitiligo com outras doenças autoimunes, como:

  • Doenças da tireoide
  • Anemia perniciosa
  • Doença de Addison
  • Diabetes mellitus
  • Hipoparatiroidismo
  • Miastenia grave
  • Alopecia areata
  • Esclerodermia
  • Nevo halo
  • Melanoma

Quando o vitiligo está associado a essas doenças autoimunes, tem maior risco de se disseminar para toda a pele.

Hipótese neurogênica

Sugere que as terminações nervosas na pele liberem substâncias que inibam ou causem danos aos melanócitos.

Essa possibilidade é sugerida pela coincidência de casos de vitiligo seguirem, aparentemente, o trajeto dos nervos (vitiligo segmentar), além da constatação de lesão  nos nervos, através de microscopia eletrônica.

Hipótese autotóxica

Ocorreria a autodestruição dos melanócitos por falha nos mecanismos de autodepuração de produtos derivados da melanina que teriam efeitos tóxicos sobre essas células.

Essa hipótese nasce da constatação clínica de lesões indistinguíveis do vitiligo desencadeadas por produtos químicos de comprovada ação tóxica aos melanócitos.

Manifestações clínicas do vitiligo

O vitiligo manifesta-se, no início, apenas por perda parcial do pigmento melanina, especialmente no rosto, dificultando o diagnóstico.

Queimadura solar severa, gravidez, trauma na pele e estresse emocional podem desencadear a doença.

A sua evolução é imprevisível. As lesões podem permanecer estáveis ou progredir lentamente durante anos.

Na maioria dos casos, a extensão e a distribuição das lesões são modificadas pelo crescimento das lesões ou por aparecimento de novas.

A progressão da doença é mais provável nos pacientes com história familiar de vitiligo, um tempo de duração maior da doença e o comprometimento das mucosas.

Pode se instalar rapidamente em alguns meses, de maneira progressiva, permanecendo instável por vários anos.

As manchas predominam na pele mais rica em melanócitos e sujeitas a atrito, como:

  • Face
  • Axilas
  • Regiões inguinais (virilhas)
  • Genital
  • Dorso das mãos
  • Aréola da mama
  • Pés
  • Joelhos
  • Cotovelos
Vitiligo disseminado
Vitiligo no joelho

A distribuição das lesões tende a ser simétrica. Também pode seguir a distribuição de dermátomo, ou seja, seguindo as linhas de força da pele, unilateral, geralmente no rosto (segue trajeto do nervo trigêmio), conhecido como vitiligo segmentar.

Vitiligo segmentar
Vitiligo segmentar

Este surge geralmente na infância e raramente se propaga para outros locais.

Os pelos da mancha permanecem com a cor normal por um tempo, porém tendem a se tornar brancos com o avançar da doença, conhecido como poliose e afetando a cabeça, sobrancelhas e cílios. 

Vitiligo com poliose (cabelo branco)

Essa mudança é indicador de mau prognóstico em relação à repigmentação por ser o pelo o maior estoque de melanina. A margem da lesão é mais escura do que a pele ao redor. 

A repigmentação espontânea, que ocorre em 10 a 20% dos casos, é determinada por alguns fatores.

Regiões ricas em pelo, como o rosto, têm bom prognóstico, enquanto mucosas, ponta dos dedos e sobre saliências ósseas como cotovelos, maléolos e articulações dos dedos das mãos, são difíceis de voltar à cor normal.

Os casos com tempo de evolução inferior a 2 anos são mais fáceis de curar e, por isso, o tratamento deve ser iniciado o mais precocemente possível.

As crianças apresentam mais facilidade de curar do que os adultos, assim como as pessoas de pele escura. A recuperação da cor geralmente se inicia ao redor do pelo.

Outras patologias como a uveíte (inflamação no olho) e cabelos brancos prematuros podem ocorrer. O vitiligo pode chegar a atingir quase toda a pele.

Pode ainda ocorrer surdez e aumento de 3 vezes a probabilidade de câncer de pele, inclusive de melanoma. Este último tem melhor prognóstico (menos chance de metástase) quando associado ao vitiligo.

Efeito psicológico do vitiligo

O vitiligo tem efeito devastador no lado psicológico dos pacientes, especialmente nas mulheres e nas pessoas de pele escura.

As crianças sofrem severo trauma psicológico, comprometendo o relacionamento social e o desenvolvimento emocional.

Em países como o Brasil, com alta incidência de hanseníase, os pacientes sofrem muito as consequências de preconceito por ser confundida com o vitiligo.

Tratamento do vitiligo

É uma doença de difícil tratamento e o prognóstico depende dos fatores enumerados acima.

A resposta ao tratamento é melhor avaliada após completar 3 meses. O rosto, pescoço, tronco e membros (exceto mãos e pés) respondem melhor, enquanto os lábios, genital e extremidades dos membros são mais resistentes.

A repigmentação é iniciada, além de ao redor dos pelos, também na periferia da mancha.

A escolha do tratamento depende de vários fatores, como:

  • O tipo de vitiligo
  • A extensão
  • A localização
  • Se está em atividade de expansão
  • A idade
  • O fototipo (cor da pele)
  • O efeito na qualidade de vida do paciente
  • A motivação
  • O poder econômico

O caso com poucas lesões pode ser aplicado corticosteróide ou imunomoduladores, como pimecrolimo e tacrolimo, estes 2 últimos, preferencialmente no rosto.

Muito eficiente e a mais utilizada é a fototerapia, tratamento que utiliza radiação derivada do Sol, emitida dentro de uma cabine

Esta última, quando associada a outras modalidades de tratamento, pode ser muito efetiva. A aplicação do excimer laser é muito eficaz apesar de ser muito caro.

Se não houver resposta e tiver evolução superior a 1 ano, deve ser realizada cirurgia através de retirada de pele normal em local coberto e enxerto na mancha.

Os casos que apresentam evolução muito rápida, devem ser tratados com ingestão de corticosteróide em baixas doses, evitando o uso prolongado e sempre acompanhados pelo dermatologista para prevenir os efeitos colaterais.

O vitiligo segmentar deve ser tratado da mesma maneira que o localizado. 

Os casos extensos exigem a fototerapia, sendo preferível associar ao tratamento de aplicação tópica

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